quarta-feira, 16 de dezembro de 1992

Mãos! Privilégio

Ainda é domingo e não posso dormir sem compartilhar com alguém o que vivi hoje. Quero que os irmãos vivam um pouquinho comigo a gratidão que tenho de poder escrever. E por quê? Dentre muitas razões, uma delas é porque tenho mãos! Como me senti grata por isso hoje.

Após a EBD e o culto, fui com a irmã Laura, "minha carregadora voluntária de viola", para o hospital central de Quelimane. Queria visitar a irmã Fátima, que havia sido internada como seu bebê e encontrar um irmão que chegou à mais ou menos três dias de uma zona bastante afetada pela guerra. Não o conhecia e estive perguntando por ele na ortopedia e cirurgia. Por fim encontrei-o lá fora sentado no chão. Estada vestido com um calção e tinha um lençol amarrado à cintura. As duas mãos estavam com curativos. Bastante magro era ele, o irmão Henrique Fernando. É crente novo, batizado ano passado e com alguns outros homens foi apanhado pelos "bandidos".

Quando lhe perguntei se tinha uma Bíblia, disse que não. Mas como sabe ler, dei-lhe um folheto só com versículos. Vários outros pacientes e funcionários do hospital pediram um também. E quando o irmão Henrique estendeu os dois braços e apanhou o folheto com os dois pulsos, fiz força para ser natural. Este nosso irmão está estragado (como dizem eles), mas não puderam estragar-lhe o espírito! Ele quase não cantou "Deus é amor" e olhava muito atento para o meu violão. Oramos juntos, e saí de lá com a irmã. Laura meditativa.

Mãos! Duas mãos! Eu as tenho! Os irmãos as tem! Podemos fazer tudo com elas. Somos privilegiados! Continue orando por nós.


Missionária Raquel Barcelos.
Caixa Postal 2021 Beira -
República Popular de Moçambique África Austral

Fonte: Jornal El Shadai, nº 4, Dezembro de 1992, página 7.

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