segunda-feira, 21 de dezembro de 1992

Descobrindo o amor em Pedra de Guaratiba

Atualmente mantendo 70 crianças, o Abrigo Evangélico de Pedra de Guaratiba vem desde 1947 dando a menores entre 3 e 15 anos, um lar e educação secular e espiritual. Ligado à União das igrejas Evangélicas Congregacionais dos Brasil, o órgão sobrevive das doações voluntárias das igrejas e irmãos que acreditam no trabalho e têm consciência de sua importância.

As crianças do Abrigo, na sua maioria, são órfãos apenas de um dos pais. Por viverem em condições de muita pobreza, sem quem cuidem delas, estes menores são encaminhados pelas igrejas para morarem no Abrigo. Na instituição, elas freqüentam a escola pública e recebem dos funcionários, orientação religiosa e familiar. Segundo Leda dos Santos Cruz, secretária do Abrigo, todas as crianças são filhas de pais não evangélicos. Assim, ela afirma que os menores sempre trazem consigo hábitos e comportamentos errados que necessitam de muita orientação e carinho para serem superados e corrigidos. A secretária conta que o diretor, pastor José Rosa Franco e sua esposa Janete, que moram no Abrigo, cuidam desta parte de orientção e auxílio meral às crianças.

O trabalho requer um custo financeiro muito elevado, o que faz com que o Abrigo Evangélico de Pedra de Guaratiba passe constantemente por sérias dificuldades para ser mantido. A maior parte do recursos vêm das igrejas congregacionais, mas outras instituições e pessoas físicas também contribuem com o trabalho. Muitas campanhas são feitas com o intuito de angariar gêneros alimentícios e vestuário para as crianças, mas apesar disto, muitas vezes o órgão fica vários meses sem ter condições de ao menos pagar a conta de água por não ter dinheiro em caixa. "Esporadicamente nós recebemos alguma verba dos governos estadual e federal, mas estas não são suficientes para cobrir as nossas despesas que são muitas", revela Leda.

Com os recursos escassos, o Abrigo foi obrigado a manter o regime de rodízio dos funcionários. Todos os 12 empregados trabalham por escala na cozinha, na coordenação, como monitores e nas demais áreas. Segundo a secretária, a falta de verba fez também com que o Abrigo abrisse mão do psicólogo que trabalhava na orientação das crianças. O revezamento, de acordo com Leda dos Santos, vem tendo um bom resultado, pois todos os funcionários, todos tratados por tios, tenham a oportunidade de trabalhar diretamente com as crianças, não permitindo que elas tenham vínculo de amizade apenas com alguns, mas sim com toda a equipe.

A faixa etária que o Abrigo estabelece para receber as crianças é de três a seis anos de idade, porém elas permanecem na instituição até os 15 anos. Alguns são enviados pelo Juizado de Menores e ficam no Abrigo até alcançarem a maioridade. A secretária explica que de 15 em 15 dias, as crianças vão para a casa de algum familiar para passar o fim de semana. "É raro o caso de crianças que não tem nem pai, nem mãe. Muitas delas, são colocadas pelos pais que nunca mais voltam ao Abrigo para vê-las", afirma. Segundo ela, a igreja que encaminha o menor fica responsável por ele, levando esta criança para passar dias, durante as férias escolares, nas casas de membros da igreja.

O Abrigo é constantemente procurado para novas internações, mas devido a falta de condições de atender a todas as solicitações, o Conselho faz uma triagem para averiguar a real necessidade desta criança. "É necessário haver esta seleção, inclusive o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente faz uma grande pressão, pois não nos dá margem para termos uma instituição em regime de internato. Eles querem agora que as crianças fiquem abrigadas nas casa-lares, que são pequenas residências com algum internos e um responsável", revela Leda. Entretanto, mesmo antes do Estatuto ser aprovado, o Abrigo de Pedra de Guaratiba já trabalhava com o "objetivo de construir dentro de seu terreno várias unidades de casas-lares, dando a elas uma noção mais real de família. De acordo com Leda, o plano do Abrigo, é construir sete casas deste tipo, mas até agora apenas uma está pronta e funcionando e outra foi interrompida no meio da construção por falta de recursos financeiros. Enquanto este projeto não pode ser executado integralmente, as 70 crianças ficam nos dormitórios que abrigam em média 30 internos cada um.

"O nosso apelo é que as pessoas realmente sejam tocadas e sintam a necessidade das nossas crianças porque nós vivemos de doações", garante Leda dos Santos Cruz. Com todas estas dificuldades, o Abrigo Evangélico de Pedra de Guaratiba vem conseguindo dar a centenas de crianças carentes, a oportunidade de uma educação mais digna como seres humanos. O Abrigo, que tem como presidente o pastor Deneci Gonçalves da Rocha, tem a sua secretaria de coordenação na rua São Luiz Gonzaga, 1.132„ em São Cristovão, e o telefone para contato de pessoas que queiram ajudara obra é 589-3204.

Fonte: Jornal El Shadai, nº5, pág 15, Dezembro 1992.

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