segunda-feira, 21 de dezembro de 1992

Paraplégico com liberdade total

Fotos: Carlos Carvalho

Cada deficiente físico tem características próprias imprimidas pelo seu problema que dá a ele mais ou menos capacidade para se locomover sozinho. Desta forma, as cadeiras de rodas utilizadas por estas pessoas necessitam ter linhas que tomem o mais confortável possível para comportar o deficiente e amenizar o máximo suas limitações em relação a realidade do ambiente onde ele viva. Pensando nisto, o professor de Educação Física Jorlan Cleber de Oliveira Souza desenvolve, há cerca de quatro anos cadeiras de rodas personalizadas que são feitas levando em consideração o grau de deficiência de cada indivíduo.

"Eu comecei a fazer este trabalho primeiramente porque no Brasil, o deficiente, é físico e financeiro. Então eu me propus a fazer cadeiras a nível quase internacional", conta Jorlan Cleber. A importância deste trabalho reside no fato de caso ter características diferentes, o que no Brasil isto não é levado em conta. O professor afirma que o material produzido no país parte da premissa de que é o deficiente que tem que se adaptar a cadeira e não o contrário. Nos países do primeiro mundo, a preocupação com este tipo de problema é totalmente diferente. O produto oferecido no mercado é de alta tecnologia, dando ao portador de alguma lesão capacidade para se locomover e desenvolver atividades tanto profissionalmente como no campo do esporte e lazer.

Todo o trabalho de Jorlan é feito em uma oficina montada por ele em sua casa. Lá, ele adaptou equipamentos para adequar ao tipo de desempenho que é necessário para o material produzido. Ao longo destes quatro anos de produção, ele já fez cadeiras para crianças, que requerem estruturas especiais principalmente devido a estatura, e para atletas que tem a carência de cadeiras que alcancem um bom desempenho em quadras e pistas de atletismo. A produção é feita a partir de um exame minucioso da pessoa que vai utilizar a cadeira de rodas. Jorlan faz uma análise apurada para avaliar o nível de deficiência, ponto de equilíbrio e atividades que o portador da lesão executa. Além disso, o professor estuda o local onde a cadeira vai ser utilizada para que o seu tamanho e atrito com o solo seja o melhor possível.

Segundo Jorlan Cleber, a maior dificuldade em termos de aquisição do material para a produção das cadeiras são as rodas dianteiras de oito polegadas que não são fabricadas no Brasil. A solução neste caso é fazer adaptações do que já existe no mercado, porque o material importado eleva muito o custo da cadeira. "Outro problema é que as cadeiras usam rodas traseiras com aro 24 e isto gera grande dificuldade porque não existe mais bicicleta com esse aro, assim os fabricantes não produzem mais pneus para estas rodas", revela o professor. De acordo com ele, mais um ou dois anos e este produto vai sumir totalmente do mercado porque não é lucrativo fabricar pneus só para cadeiras de rodas.

O custo de uma cadeira está em torno de um milhão e 600 mil cruzeiros hoje. "Isto sem computar o xigênio, acetileno, disco de corte e combustível que eu não cobro", garante ele. De acordo com Jorlan, o custo aumenta ainda mais porque todas as rodas levam rolamento para aliviar o peso e fazer com que a cadeira deslizes com mais facilidade.

"No Brasil quem não é produtivo não tem vez", afirma o, professor. Ao contrário do que acontece nos países desenvolvidos, as ruas, prédios e transportes não são adaptados para receberem os deficientes físicos que se locomovem com cadeiras de rodas. Isto limita ainda mais o campo destilação de uma pessoa portadora de lesão. Em particular no Rio de Janeiro, não há infra-estrutura para facilitar a vida e a locomoção de um deficiente. Ele cita, como exemplo, as portas: que dificultam a passagem das cadeiras, a falta de rampas, além dos banheiros públicos que não são adequados para servirem a estas pessoas. Com estas dificuldades, toma-se ainda mais importante um trabalho que tente amenizar os problemas já consolidados para que o deficiente físico tenha chance de trabalhar, praticar esporte e se movimentar sem que haja discriminação ou que seja visto como um ser improdutivo, o que não é absolutamente uma realidade.

Fonte: Jornal El Shadai, nº 5, Dezembro de 1992, pag 13.

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