sexta-feira, 11 de junho de 1993

O Combate às drogas através do amor

Se você está entrando pare. Se você está há muito tempo lá e não consegue parar, nos procure". Este conselho é do pastor José Francisco Veloso, fundador e idealizador do Projeto Amor, que há 11 anos recupera alcoólatras e toxicômanos. Dentro do sítio em Paraíba do Sul, no município de Três Rios, vivem hoje 45 internos que estão se libertando do vício através do único remédio eficaz: o amor.

O próprio pastor Veloso já sentiu na carne o que é ser um dependente das drogas. Ele era jogador de futebol profissional e em meio a toda a escuridão que havia se transformado a sua vida, teve um encontro com Jesus Cristo, largando o mundo dos tóxicos e se reintegrando à sociedade. Através desta experiência pessoal nasceu a certeza de que era possível fazer algo pelas outras pessoas, que como ele, conheceram a dura realidade da dependência física e psíquica das drogas. Durante toda esta trajetória de trabalho, cerca de 3.000 internos já passaram pelo Projeto Amor e o pastor afirma que destas, um total de 2.000 sairam recuperados e hoje são servos de Deus livres da escravidão do álcool e das drogas.

Como base, o Projeto não faz qualquer espécie de discriminação sobre que tipo de paciente vai receber. "Nós trabalhamos na recuperação de viciados, alcoólatras, homossexuais e aidéticos. Mas é importante dizer que nós não trabalhamos especificamente com homossexuais e aidéticos, agora se o viciado ou alcoólatra for também um homossexual ou um aidético nós damos qualquer apoio, sem discriminação", garante o diretor. O Projeto Amor recebe pessoas que vão desde os nove anos até os 60 anos de idade.

Desde o inicio, o trabalho foi muito abençoado. O pastor José Francisco Veloso conta que o sítio em Paraíba do Sul, onde funciona o trabalho de recuperação, foi uma doação inteiramente gratuita. Lá, os intemos participam de terapias de grupo, cultos, aconselhamento individual, plantio de alimentos, criação de animais, esportes e muitas outras atividades que ajudam na recuperação. O pastor revela que toda a área médica da região presta serviço inteiramente gratuito aos internos. "Nós conseguimos cirurgias, internações, atendimento, tudo sem qualquer recurso financeiro". Na área espiritual, o Projeto Amor conta com o apoio de duas missionárias e dois seminaristas, além da participação da família que é essencial neste processo de libertação do vício. Cinco ex-viciados trabalham no sítio, fazendo a segurança interna do local.

O diretor do Projeto conta que é muito difícil conseguir liberar alguém com menos de cinco meses de internação. Não há um tempo previamente estabelecido para o viciado deixar o Projeto. Segundo o pastor, o trato que é feito com o interno é que quem determina o dia da saída é Deus. Quando este dia chega, o novo homem pode sair do Projeto com medalha e diploma. Desta forma, o interno não fica contando os dias para sair, ou se sentindo um prisioneiro. Um dado surpreendente que o pastor Veloso revela é que o maior problema de dependência e de dificuldade para se libertar, não é a cocaína ou o álcool, mas o cigarro comum. "Eu perco muitas pessoas por causa do cigarro. Eles me dizem eu largo tudo, mas o cigarro eu não consigo", afirma o pastor. Para ele, o problema deste vício está diretamente ligado à televisão que faz com que a pessoa tenha uma dependência psíquica muito grande.

Os primeiros dias são os mais difíceis porque vêm as alucinações, insônia, desarranjo e outros problemas. E é neste ponto que entra o trabalho espiritual do Projeto Amor. Descordo com Veloso, numa clínica comum, o paciente seria amarrado, receberia uma injeção, mas no Projeto, a única injeção que ele recebe é uma oração fervorosa, um abraço forte, um gáto na hora certa, dando até mesmo uma bronca, demonstrando principalmente o amor.

Para manter este trabalho, em primeiro lugar, os parentes dos internos que têm condições financeira são chamados à colaborar com cerca de um salário mínimo. Este valor entretanto, não cobre a totalidade dos gastos, principalmente em relação a alimentação. O pastor conta que eles fazem quatro refeições diárias que devem ser substanciosas, pois a necessidade alimentar de uma pessoa que está deixando as drogas é maior do que o normal. As despesas, segundo o pastor ficam hoje em tomo de Cr$ 1.200.000,00. "Este custo cai porque nós recebemos ajuda da Convenção Batista Brasileira, de alguns juízes evangélicos do Rio de Janeiro, de empresários, que nos apóiam financeiramente", afirma. Além destes recursos, o Projeto Amor também subexiste da venda de camisas, livros e outros trabalhos feitos pelos próprios internos. De acordo com Veloso, que é autor do livro "Um Tapa Nas Drogas", após 17 anos de trabalho, o Governo Federal está descobrindo o Projeto. Eles receberam a visita de uma comissão que ficou encantada com o trabalho e prometeu ajuda integral em 93." Eles estiveram lá e se encantaram com o Projeto. Saíram apaixonados. Modéstia às favas, quem conhece o Projeto Amor pessoalmente sai de lá apaixonado", finaliza pastor Veloso.

Quem estiver interessado em contador o Projeto Amor pode fazê-lo através dos telefones (0242) 63-2036, (0242) 52-0970 ou 201-3348 (Rio de Janeiro). Por carta, através da Caixa Postal 23, CEP 25.800 - Três Rios - RJ.

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Fonte: Jornal El Shadai, nº6, pág 13, Janeiro 1993.