segunda-feira, 21 de dezembro de 1992

A mulher e a Igreja

As mulheres sempre foram discriminadas. Desde os mais remotos tempos, o sexo feminino tem sido substimadas em todos os apectos. Entretanto surge uma nova mulher que tenta resgatar a própria identidade. Nesse universo como ficam as mulheres que optam pela vida sacerdotal? Até que ponto as igrejas apoiam o ministério feminino?

Fotos: Carlos Carvalho

As mulheres sempre foram discriminadas. Em todos os aspectos e setores o chamado "sexo frágil" tem carregado o estigma da submissão. Por séculos a mulher tem cultuado o sentimento de inferioridade em relação ao homem. Mas o universo feminino começa a reagir, despindo-se dos esteriótipos de "princesas e mariazinhas". As mulheres começam a se posicionar na tentativa de resgatar a própria identidade e avaliando o seu papel na sociedade. O dito "atrás de um grande homem há uma grande mulher toma-se obsoleto. A verdade é que "ao lado de um grande homem, caminha uma grande mulher".

E o que se pensa à respeito de uma mulher que opta pelo sacerdócio? As pastoras tem total apoio das igrejas? E porque algumas denominações não ordenam mulheres? Qual a reação dos fiéis diante da pregação feminina? E quem estabeleceu que o dom da palavra é uma exclusividade do homem?

Para a pastora Rosângela Soares de Oliveira, 34, ordenada em janeiro de 1981 no Concílio Regional da Igreja Metodista em Friburgo, a discriminação contra a mulher não está totalmente resolvida, inclusive na própria igreja. A pastora menciona ainda que a sociedade patriarcal hierarquizou os conceitos supervalorizando o homem, já que tudo funciona em torno dele.

A Ministra conta que se decidiu pelo pastorado em função da família, já que desde cedo desempenhava determinadas tarefas na igreja. Ela revela ainda que quando adolescente trabalhou com crianças e após terminar o 2° grau fez teologia. "A vocação pastoral é o resultado de uma experiência de fé, de vontade de servir a Deus através da igreja, de participar mais ativamente da vida das pessoas" menciona.

Rosângela ressalta ainda que "discriminar a mulher é interferir na sua dignidade e identidade de ser humano. É preciso que o homem e a mulher andem lado a lado. Ambos são diferentes, mas são iguais no exercício de seus direitos".

As mulheres Sustentam a Igreja

A discriminação à ordenação de mulheres vem de um processo histórico que toma o homem como padrão. Entretanto quem dá a vocação sacerdotal é o Espírito Santo. Então não justifica porque somente iria escolher homens. A palavra diz que o Espírito Santo é como o vento. Ele sopra a onde quer. Além disso, as mulheres sustentam na prática a igreja com suas orações, com trabalho educacional, social então porque não pode sustentar na sua administração? Indaga a pastora metodista.

Questionada sobre a reação mais comum quando os fiéis se deparam com a pregação de uma pastora, Rosângela diz que é de suspeita. Passado esse primeiro momento a segunda etapa é de avaliação da proposta pastoral. A Ministra diz que sempre teve como objetivo desenvolver um trabalho social, comunitário, ecumênico. "Sempre me preocupei com à atuação da mulher na família, na sociedade, e por isso já fui discriminada em algumas comunidades, exatamente por essas ênfases pastorais.

A pastora diz que desde 86 desenvolve um trabalho específico para mulheres na Baixada Fluminense, chamado de pastoral da mulher que é basicamente na área da educação cristã. Segundo ela, são feitas muitas reflexões sobre o papel da mulher na igreja, na sociedade e na Bíblia. Rosângela menciona também que acha muito importante reler a Bíblia na perspectiva da mulher, porque considera que existe um discurso de submissão em relação ao sexo feminino "É preciso uma nova leitura para resgatar e reconstruir a identidade da mulher. Essa nova visão ajuda a criar uma auto-estima, uma auto-valorização" complementa.

A Ministra Metodista, revela que a Pastoral da Mulher tem feito uma série de estudos bíblicos, além de ser responsável pela elaboração do material que motiva as igrejas para uma reunião anual que se chama "Encontro Baixada Livre", quando é celebrado a fé. Os desafios, as vitórias e atuação missionária. A pastora também desenvolve um trabalho no Instituto de Estudo Bíblicos, através do Projeto SOFIA, Mulher, Teologia e Cidadania, que abrange a questão da mulher negra e rural.

Se as mulheres estão preparadas para assumir novos papéis na sociedade? Bom, pelo menos acho que desejam uma vida nova, como gente que tem uma contribuição a dar, cujas opiniões possam ser respeitadas. "Ninguém gosta de apanhar, de ser maltratada. Não queremos ser super-mulheres, mas também é preciso acabar com a imagem de que apenas sabemos chorar e esperar."

A mulher foi criada Para ser auxiliar

O Reverendo Guilhermino Cunha, da Catedral Presbiteriana do Rio, acredita que quando Deus criou a mulher, criou-a para ser auxiliar idônea. "A mulher tem seu lugar no corpo social e dentro da Igreja de Jesus Cristo, ela deve continuar sendo uma auxiliadora, abençoada com as atividades que tem", frisa. Guilhermino Cunha diz ainda que há impecilhos de ordem até funcional para o ministério pastoral ordenado por mulheres.

A mulher é a companheira do homem

O Pastor Valdir Neves, da Assembléia de Deus de Cordovil, também não concorda com o ministério de mulheres. Ele diz que não apoia a iniciativa e que a ordenação feminina não tem o apoio popular. Segundo o Pastor, Deus deu como missão à mulher, ser companheira do homem.

Deus também usa as mulheres no seu ministério

Já o Pastor Rudy, da Igreja da União em Copacabana, diz que pela história da Bíblia toda comunidade de fé tem lideranças que são os homens. Mas ressalta, que quando os homens falham, então Deus usa as mulheres. O Pastor Rudy adverte que os homens tem falhado, inclusive na própria igreja. "Se existem mulheres com o espírito de se submeter e servir a Deus, tenho certeza de que o Senhor irá aprovar também esse ministério com a ordenação. Eu aprovo à ordenação de mulheres, mas só se for nesse contexto.

Fonte: Jornal El Shadai, nº 5, Dezembro de 1992, pag 10 e 11.

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