domingo, 26 de novembro de 2006

Atleta da Bíblia e do telefone celular

Perfil do consumidor/ Marcelinho

É nos pés e na velocidade do atacante Marcelinho que a imensa torcida rubro-negra deposita suas maiores esperanças de vitória no Campeonato Brasileiro e na Supercopa. Depois do empate de 1 a 1 com o Corinthians, no último domingo, que garantiu a classificação do Flamengo à fase final do Brasileiro, o atrevido jogador deixou o gramado do Maracanã com um novo apelido: Marcelinho, o ensaboado _ aquele que, gingando para um lado e saindo pelo outro, escorrega entre os marcadores, que só conseguem pará-lo com faltas.

Marcelo Pereira Surcim, 21 anos, tem o salário fixado em dólares _ US$ 10 mil mensais _, o que permite que ele só use perfume francês, tenha um carro do ano e um telefone celular sempre preso à cintura. Evangélico desde 89, Marcelinho não desperdiça seu dinheiro com prazeres mundanos e mantém alguns hábitos de menino do subúrbio do Rio. Seu prato preferido ainda é arroz com feijão; livro, a Bíblia e símbolo sexual, a esposa.

Mas até o final do ano ele pretende realizar dois sonhos: a compra de uma casa com piscina e o nascimento do seu primeiro filho, previsto para dezembro. Quem pode ver um sonho virar realidade bem mais rápido é a torcida rubro-negra. Na quarta-feira, o Flamengo entra em campo para a decisão da Supercopa contra o São Paulo. É o único título que falta para o Flamengo, pentacampeão nacional e campeão mundial em 81.


Fonte: Jornal do Brasil, pág. 6, 21/11/1993.

Mundo evangélico expande os seus negócios

por MÔNICA MAIA

Deus não morreu. Está criando uma infinidade de pequenas igrejas e grandes negócios no mundo evangélico. Um universo em expansão semanal, com a inauguração de cinco igrejas a cada dia útil no Grande Rio, segundo o Censo Institucional Evangélico do Instituto de Estudos da Religião (Iser), que detectou 85 novas correntes pentecostais e 3.797 instituições evangélicas na Região Metropolitana. Elas geram produtos e serviços para mais de 1,5 milhão de fiéis _ parte dos 22 milhões do rebanho de crentes que figura no último censo do IBGE.

Os evangélicos parecem ter descoberto o milagre da multiplicação dos fiéis. ´´É um crescimento assombroso, que dobrou em uma década. Em 80, os evangélicos eram 6% da população e, em 91, chegaram a 12%, criando uma cultura própria``, analisa o sociólogo e pastor metodista Jorge Luís Domingues do Iser. A cultura paralela que inspira templos, meios de comunicação, música, literatura especializada, grifes de roupas esportivas, cursos de inglês através da Bíblia e até bares evangélicos, também movimenta a economia fluminense.

Ramificações - São 20 jornais, 38 livrarias, 45 editoras e gráficas, oito gravadoras e distribuidoras de discos, 30 vídeo locadoras e distribuidoras de vídeos, duas emissoras de TV e 12 de rádio transmitindo 295 programas em um total de 16.780 minutos por semana. O estereótipo do crente Bispo Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus _ a que mais cresce, com 700 templos no país e ramificações nos EUA, Portugal, Argentina, Colômbia e Angola _ vai dando lugar a uma nova casta de pequenos e médios empresários do ramo evangélico.

A cantora batista Marina Oliveira, de 31 anos, é uma espécie de Carly Simon evangélica, com seis discos no currículo e pós-graduação na Christian Broadcast Network, uma rede evangélica americana a cabo para 15 países. Ela coordena um pequeno império da mídia religiosa. É filha do deputado federal Arold de Oliveira (PFL), sócio da rádio FM El Shadai, do jornal mensal de mesmo nome e da MK produtora e gravadora, com 11 artistas e mão-de-obra predominantemente evangélicos. Marina professa uma fé inabalável na difusão dos negócios ligados à divulgação da palavra de Cristo.

Sucesso - "É um mercado em franco desenvolvimento e a mídia só faz aumentar esse ritmo. Mas estamos pelo menos 20 anos atrasados em relação aos Estados Unidos onde os cantores evangélicos disputam o hit parade com clássicos da música", conta Marina que já vendeu 100 mil cópias de seu LP Imenso amor. A rádio El Shadai prospera ao sabor dessa moda evangélica. "A nossa cobertura, segundo o Ibope, chega a 386 mil ouvintes por mês", comemora. A tiragem do jornal, que era de cinco mil exemplares por mês passará para algo entre oito e dez mil.

A versatilidade da fé pode se manifestar também em métodos como o Sheffield, curso de inglês através da Bíblia, que está nas ondas das rádios evangélicas. O crédito do lançamento é do professor Walmy Figueiredo, que o trouxe para o Brasil há um ano.

Fonte: Jornal do Brasil, pág 27, 18/07/1993

Livros, discos e o ´point` jovem

Além de movimentar uma lista de best sellers liderada por títulos como Ato conjugal, A Bíblia e o impeachment, Crente precisa de salvação as livrarias evangélicas se converteram em bazares da fé. Discos, CDs, fitas, posters, flâmulas, camisetas, bonés, artigos de decoração e papelaria e uma infinidade de souvenirs vendendo frases como Eu amo Jesus e Cristo salva estão nas estantes das grandes lojas do ramo como a Betânia, Casa Publicadora das Assembléias de Deus, Junta de Edições Religiosas e Vinde, em Niterói.

Outro filão são os hinários, comentários e manuais bíblicos além das revistas Gente gospel, Mulher cristã, Lar cristão, Casal feliz e Visão Missionária. ´´Vendemos uns 1.500 livros por semana de 20 editoras``, diz Lilian Ribeiro, da livraria Betânia. Na sessão de discos, os LPs Tempos de visitação e Quebrando as maldições são os maiores sucessos. ´´São músicas com louvores bem agitados, com palmas. É animadíssimo``, diz Paulo Leonel, devoto da Assembléia de Deus, que vende 30 LPs por dia, cada um por Cr$ 350 mil.

Bar diferente _ Parece um bar como outro qualquer, com clipes do sexteto Take 6 no circuito de vídeo, neons e namorados em volta de travessas de tira-gostos. Mas o recém-inaugurado Gospel Club, é um bar evangélico. Sem um cinzeiro à vista, serve sucos, refrigerantes e cerveja sem álcool e pretende se tornar o point da juventude evangélica na Tijuca.

Os sócios Orlando César, José da Ponte e Roberto Lúcio, prometem mais. Jogos de dardos e música ao vivo estão nos planos dos membros das Igrejas de Nova Vida e Comunidade da Zona Sul, no Flamengo.

"Há uma visão distorcida do mundo evangélico, que tem o estereótipo do crente chato. O pessoal vai a shows, teatros e aqui é um espaço para se encontrar e levar um som", avisa Orlando, que toca com seus sócios uma confecção _ a J.C. Infinity, com bonés, shorts e camisetas no melhor estilo das boas butiques com mensagens como Jesus is my best company (Jesus é minha melhor companhia).


Fonte: Jornal do Brasil, pág 27, 18/07/1993