quarta-feira, 16 de dezembro de 1992

Maçonaria

A maçonaria é até hoje um dos grandes mistérios da humanidade. Polêmica, a maçonaria apesar de não ser uma religião é aceita por poucos pastores causando controvérsias no meio evangélico. Mas o que leva um cristão a dizer durante o ritual maçônico que procura a luz, quando a luz provem de Jesus? E por que essa sociedade, que tem como objetivo a prática do bem, é tão repudiada?


O El Shadai procurou elucidar o assunto entrevistando autoridades do meio evangélico, assim como da maçonaria para que mediante as opiniões divergentes, o leitor possa formular um conceito próprio sobre o assunto.

O Sereníssimo Grão Mestre, Luiz Zveiter, Presidente da Grande Loja Maçônica do Estado do Rio de Janeiro, explica que a maçonaria é uma instituição iniciática que faz com que seus adeptos se aperfeiçoem para poder levar um pouco de paz e tranquilidade a sociedade a qual ele vive. Ela não faz distinção de raça, credo e cor. Exige-se apenas que o adepto acredite em Deus.

Luiz Zveiter menciona também que a maçonaria não é uma sociedade secreta. "É uma instituição velada, sendo registrada no cartório de pessoas jurídicas. É uma entidade publicamente conhecida, mas seus trabalhos são velados". Ele enfatiza que a maçonaria não tem uma data precisa em que se possa afirmar que foi fundada. "Ele tem como base a construção do Templo de Salomão em Jerusalém, mas acreditamos que vem muito antes disso".

Ele revela ainda que em 1927, Mário Bering que era integrante do Grande Oriente por não concordar com o comportamento litúrgico interno e a forma de desvirtuamento da essência da instituição resolveu fundar as Grandes Lojas. Portanto, existem duas linhas maçônicas. O Sereníssimo diz ainda que prá alguém se tornar maçom é feita uma análise sobre sua conduta moral, social e familiar.

A VERDADE SOBRE O BODE PRETO

Se existem rituais satânicos, pactos de sangue, nome escrito em brasa no corpo do iniciado? Não, não existem. Isso é mística em relação à maçonaria. "Uma das exigências da maçonaria é a de acreditar num ser supremo que denominamos o Grande Arquiteto do Universo que é Deus", enfatiza.

Quanto a reverência ao bode preto, o Grão-Mestre explica que no pentagrama existe um homem de pernas e braços abertos, um homem em evolução. "Se esse pentagrama for virado de cabeça para baixo, parece um bode. Como temos por base a evolução, adotamos o pentagrama, daí associaram a maçonaria a imagem do bode preto".

Na maçonaria, ressalta o sereníssimo, tudo é feito de simbologia. "Quando se diz no ritual de iniciação "venho das trevas em busca da luz... ", isso significa reciclar interior do próprio homem. "Não é que ele viva no mundo das trevas. O maçom, quando vai em busca do aperfeiçoamento não o procura em outras pessoas ou em outras ideologias e sim nele próprio. Ele é o centro".

Alguns pastores afirmam que a maçonaria é profana, isso é verdade? Isso é falta de informação. Fico até abismado que um pastor que se propõe sei pastor essas coisas. "Que ele desconheça e queira conhecer é uma coisa, mas dizer tais coisas... Eu até gostaria de ser convidado para um debate público para que pudesse falar sobre o assunto".

Quanto a iniciação do adepto, o Grão Mestre Luiz Zveiter explica que o iniciado repensa sobre os quatro elementos fundamentais da existência do ser humano: a água, o ar, o fogo e a terra. "Mas isso não significa que faça pactos. Todas essas afirmações, inclusive de caveiras no teto do Templo Maçônico são levianas e mentirosas. Tem sim, a abóbada celeste, com a luz, o sol, as estrelas, além dos signos do Zodíaco", acrescenta o venerável.

Dentro de um Templo Maçônico, nós temos o que chamamos do Livro da Lei "que é o ponto básico do equilíbrio de uma Loja. Esse livro substancia um livro de cada religião, isto é, quando temos uma loja onde a maioria é católica ou evangélica, o que temos em cima da Bíblia Sagrada que donde repousa a luz maior. O Grão-Mestre diz ainda que o adepto que é aceito pela maçonaria recebe a pedra do amor para com o semelhante e com coragem e perseverança, ele edifica em si o Templo de Deus que é o Grande Arquiteto do Universo. "Fé, virtude, sabedoria, força. prudência, glória e beleza são os elementos que devem ornar o interior do maçom. "A maçonaria tem como prática a filantropia, defendendo o fraco e o oprimido. Inclusive temos feitas vários trabalhos nesse aspecto, dando assistência em todos os níveis aos necessitados", diz Luiz Zveiter.

Para o pastor da Igreja Batista de Irajá, João Falcão Sobrinho, ex-secretário geral da Convenção Batista Brasileira, a maçonaria como instituição é uma força a favor da justiça, da fraternidade, e tem desenvolvido atividades proveitosas para a humanidade. Ele inclusive menciona que foi convidado duas vezes para fazer parte da instituição, mas por desconhecer o segredo que a envolve, não aceitou. "Apesar da maçonaria ser uma instituição secular, a igreja é superior, está mais envolvida".

Questionado sobre o fato de um pastor ser maçom, João Falcão Sobrinho diz que não entende porque um pastor procura na maçonaria recursos para realizar o seu ministério humanitário-social, quando se tem na igreja um instrumento muito mais eficaz. "O que eu acho muito estranho é que para a maçonaria todos se consideram irmãos. Todos comungam dos mesmos ideais, das mesmas orações. Então, pergunto como posso comungar com uma pessoa que serve a outro Deus? Indaga o pastor. João Falcão diz ainda que seria incapazde mencionar as palavras da iniciação à maçonaria, quando o neófito diz "venho das trevas em busca da luz... ", porque Jesus é a luz do mundo.

A BASE DA IGREJA É O AMOR

A maçonaria, frisa o pastor batista, considera que o meio de alcançar a luz é através do aperfeiçoamento, pela aquisição de conhecimentos e a prática das virtudes. "Tudo isso é muito bonito, mas nós somos salvos pela graça de Deus por meio de Jesus Cristo", ressalta. Falcão Sobrinho considera que a maçonaria tem bons propósitos, mas não basta. "Além da justiça e da verdade, na igreja nós temos o amor. O amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espírito Santo. O vínculo de uma igreja não é o pacto e sim o amor. Não somos unidos pela conveniência, pela troca de favores, pois a base da igreja é o amor. O amor de Deus revelado em Cristo".

Já Gilberto Malafaia, pastor da Assembléia de Deus de Jacarepaguá é contundente, dizendo que: "não é e jamais será um maçom". Ele acrescenta que o Evangelho de Jesus Cristo o satisfaz plenamente e que não precisa ser maçom para ser benemérito.

JURAMENTO NEGA CRISTIANISMO

O pastor Malafaia diz ainda não entender como um homem de Deus pode pronunciar durante o ritual maçônico "que procura a luz... ". Essa declaração nega o cristianismo e eu não preciso ser maçom para praticar o bem. O Evangelho satisfaz todos aqueles que crêem em Jesus Cristo", afirma.

EVANGÉLICO E MAÇOM, PODE?

Para H. K. N. que é evangélico e maçom, a maçonaria é uma instituição filantrópica que tem como objetivo ajudar o próximo. Ele diz ainda que existe muito folclore à cerca da maçonaria que é feita de simbolismo, inclusive o juramento do neófito que é tão criticado. Revela ainda que o chão do Templo Maçom é preto e branco representando a união das raças, e que não existem rituais satânicos, nem reverências ao bode preto.

O Evangelho, visa a vida eterna, a salvação da alma para todo aquele que crê em Jesus. Fora de Jesus Cristo não há solução para a alma do homem.

Já a maçonaria é como as demais sociedades que visam o desenvolvimento intelectual do homem, a evolução e seu aprimoramento social. "Isso, enfatiza H. K. N. não significa que ele não possa ter fé em Deus".

MAÇONARIA A FAVOR DA LIBERDADE

O pastor Ozíres Marques, da Igreja Batista de Vila Valqueire diz que não vê qualquer incompatibilidade entre a Maçonaria e o Evangelho. "É discriminada por alguns evangélicos talvez por falta de conhecimento, no entanto há grandes líderes evangélicos que são maçons." O pastor Marques que colou até o segundo grau dentro da hierarquia maçônica, explica que a sociedade é representada pelo pedreiro, um compasso, um esquadro e um triângulo que significam uma trindade de amor, liberdade e fraternidade.

A MAÇONARIA É A MELHOR COISA QUE O HOMEM JÁ FEZ

Outro que é favorável a maçonaria, é Armando Gonçalves Macedo, pastor da Igreja Metodista de Ricardo de Albuquerque, que foi Grão-Mestre, mas que atualmente encontra-se licenciado. Segundo ele, dentro da instituição humana foi a melhor coisa que o homem já fez. "A maçonaria poderia ser melhor ainda, se tivesse Jesus Cristo como centro dela", enfatiza.

CRISTO SATISFAZ PLENAMENTE

Já o pastor Ebenezer Fontes, da Igreja Evangélica "Um Novo Viver", no Méier, diz que é contra por causa do básico que é o juramento do iniciado na maçonaria. Por isso afirma "que quando realmente se conhece Jesus Cristo, todos os anseios são desfeitos. Não existe a necessidade de outras ligações.

NINGUÉM DEVE SER DISCRIMINADO

Mesmo admirando o trabalho dos maçons, o pastor Joaquim de Paula Rosa, membro da Primeira Igreja Batista de Niterói, diz que não faz parte da sociedade. Ressalta ainda que deve ser conflitante para uma pessoa crente ser maçom, mas não vê fundamento na discriminação e lembra que Deus não faz distinção.

A BÍBLIA NÃO DÁ NENHUM APOIO À MAÇONARIA

Para Waldir Neves, pastor presidente da Assembléia de Deus do campo de Cordovil, a maçonaria nada tem a acrescentar ao Evangelho. Ele inclusive menciona que a Bíblia não dá nenhum tipo de apoio à maçonaria e diz "se existem pastores que são maçons, creio que eles estão redondamente enganados. Estão fora da luz da palavra de Deus".


Fonte: Jornal El Shadai, nº4, pág 10 e 11, Dezembro 1992.

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