quarta-feira, 16 de dezembro de 1992

Deus é demais

Meu nome é Carlos Alberto Ferreira Guimarães, anteriormente conhecido como Cadinhos Tenente. Apesar de possuir um determinado grau de instrução e de ter atingido o posto de segundo-tenente da Polícia Militar enveredei pelo caminho do crime e da corrupção. Me envolvi com samba, espiritismo e tóxicos. Aprendi a destruir e matei 53 pessoas. Fiz parte do alto escalão do crime organizado. Fui traido e condenado a vários anos de detenção pela Polícia Federal.

Dentro do presídio de Água Santa para onde fui levado, ajudei a elaborar um plano para explodir o local.

Não deu certo. O plano foi descoberto. Fui levado para o calabouço onde ficaria um mês. Se resistisse seria levado para o Bangu I. Eu estava marcado para morrer.

Para que se tenha idéia, o calabouço do Água Santa fica quatro andares abaixo da terra, não existe a luz do sol, não existem visitas e só se come uma vez por dia. Normalmente um angu podre que tem que ser dividido com os ratos do contrário eles atacam. Eu estava sozinho, mas a própria solidão começou a fazer com que eu refletisse sobre os meus atos passados, as crueldades que havia praticado e as lágrimas que havia sido causador.

Então comecei a ter consciência de Deus e orei para que o meu filho não tivesse o meu destino: ser um bandido. Que fosse honesto e não desprezasse as- oportunidades como eu o fizera.

Após uma semana pedindo misericórdia a Deus, soube que já não seria mais transferido para o Bangu I e sim para o Frei Caneca. Saí de uma cela de quatro metros quadrados para uma de dezesseis e isso para mim era liberdade. Agradeci a Deus pela benção obtida, mesmo assim permaneceria meses isolado. Houve uma anistia, o meu nome estava incluido. Eu não precisaria mais ficar recluso, poderia sair da cela, e quando isso aconteceu fui em direção a um culto evangélico que se realizava nas dependências do presídio. Eu estava drogado, o Pastor percebeu e no final das orações disse que Deus poderia fazer um milagre em minha vida. Deus poderia me libertar dos vícios e pediu que eu abrisse o coração ao Senhor. À noite, liguei meu rádio em uma emissora evangélica eaos poucos fui entendendo a mensagem de Deus, de Jesus Cristo e caí em prantos ... chorei... pedindo perdão a Deus pelas vidas que havia tirado... pelo sofrimento que teria causado e por todos males que provocados.

Acordei liberto pelo poder do Espírito Santo. Não mais cheirava cocaina, nem fumava maconha. Passei a semana toda falando de Jesus para os outros detentos que não entendiam nada. Minha fé, minha aceitação por Jesus Cristo, aconteceu de maneira intensa. Deus havia me transformado em um novo homem.

Um mês depois, fui chamado pela psicóloga do presídio que percebeu minha mudança e devido a essa transformação me foi dada mais uma oportunidade.

Fui para o albergue de Niterói e lá ajudei a formar uma congregação que tem como objetivo proclamar a palavra do Senhor. Fundamos um movimento chamado comando de Cristo. Eu faço esse testemunho para que todos saibam que existe uma esperança. Por pior que seja a situação é preciso ter fé em Deus. E preciso estar com Deus no coração e aceitar Jesus Cristo.

Fui transformado de um homem violento e sanguinário em um servo do Senhor. Pela misericórdia de Jesus, hoje trabalho no Tribunal Re-gional Eleitoral. Tenho feito cursos de atualização e aos poucos vou me ressocializando, reintegrando-me ao sistema. Já não estou sozinho. Jesus me transformou numa nova criatura. Jesus transformou minhas mãos outrora assassinas, em mãos que manuseiam a Bíblia a procura de entendimento. Deus também pode fazer de você urna nova criatura. Que este testemunho sirva para comprovar que tudo é possível, desde que se tenha fé em Deus.

Carlos Alberto Ferreira Guimarães Igreja Assembléia de Deus de Campo Grande

Fonte: Jornal El Shadai, nº4, pág 20, Dezembro 1992.

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