quinta-feira, 15 de outubro de 1992

MYRTIS MATHIAS Número 1 na academia de letras

Myrtis Mathias afirma:
escrever é inspiração divina

Myrtis Mathias convive entre dois mundos: o real e o irreal. Como a maioria dos poetas, Myrtis divaga entre a realidade e a fantasia, transpondo-se com facilidade em ambos. Questionada sobre a idade que tem, prefere não revelar, mas, afinal, que significado tem o tempo para alguém que se tomou imortal? A poetisa foi a primeira mulher a participar da Academia Evangélica de Letras do Brasil, ocupando a cadeira de número um em substituição a Bolivar Bandeira.

Myrtis Mathias considera o fato de ser poetisa uma bênção. Segundo ela, "Deus dá um dom para cada pessoa", mas acrescenta que não deve ser usado em benefício próprio. "O dom deve ser utilizado para glória de Deus", ensina.

Autora de 18 livros, o mais recente "Semente na Terra", Myrtis revela que a poesia é como um pano, "quando chega a hora tem que nascer de qualquer jeito". Ela menciona, ainda, que a poesia é a forma, mais autêntica de revelar as emoções, sentimentos...

Se é possível viver financeiramente de poesias, Myrtis diz que não, mas acrescenta que , existe um grupo fiel que aprecia e lê poesias". A poetisa acrescenta também que, como em outros setores, a crise econômica também tem afetado a literatura.

Natural de Valença, interior do Rio, o primeiro livro "Poemas para o Meu Senhor" foi lançado em 1967. Entretanto de lá pra cá, essa poetisa, conceituada de maneira intensa no mundo evangélico, já passou por vários estilos. No momento, encontra-se envolta numa fase de indagações refletindo através do poema "Caminho entre dois mundos".

Caminho entre dois Mundos


Lá vou eu entre dois mundos:
o real e o ideal.
Tão juntos, entrelaçados:
o que eu sou, o que eu seda.
Um no outro emoldurado:
o que eu tenho, o que eu teria,
num futuro, num passado,
mas agora lado a lado,
aprendendo a conviver.
Nada de duplo sentido,
de esforço dividido
no processo em que estou:
sou poema sendo escrito,
planta querendo crescer,
sou vaso nas mãos do oleiro,
sol na hora de nascer.
Sou mistério e sou matéria,
sou massa, sou energia:
não tenho tudo que quero,
não sou tudo que eu queria...
Senhor Deus, que me fizeste,
que ainda me está fazendo,
nesse trilho entre dois mundos em que caminhando vou,
se não sou ainda o que eu quero,
seja Tua graça bastante para que eu siga adiante,
Te louvando, com alegria, por ser aquilo que eu sou!



Fonte: Jornal El Shadai, nº2, pág 13, Outubro 92.


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