quinta-feira, 15 de outubro de 1992

A igreja e o meio-ambiente

Por Alverson Luiz de Souza

Nunca o mundo esteve tão preocupado com o meio-ambiente quanto nestes últimos anos. É impossível abrir um jornal ou revista sem que nele não esteja inserida uma matéria tratando do assunto. As redes de televisão estão, vez por outra, apresentando documentários sobre o meio-ambiente e a necessidade da preservação da natureza. A cada dia surge uma nova organização com a finalidade de preservar a natureza ou conscientizar o homem do bem que ele perde cada vez que age com intolerância para com a vida. A terra, o ar que nos cerca e o mar tornaram-se alvo de completo ataque e hoje percebemos que o nosso frágil planeta não aguenta mais. E, então, descobrimos que a cada dia nossa própria proteção é colocada em risco. E a natureza sofre com a ação predatória do homem as consequências e sequelas somente poderão cair sobre o próprio homem.

Mas, onde está a ação da igreja e dos cristãos diante de toda esta realidade?

É incrível como nossas igrejas conseguem viver de maneira tão apática e alheias em relação aos problemas da humanidade. Levam ao pé da letras o "não sou deste mundo" ou o "sou forasteiro aqui, em terra estranha estou". O fato de não sermos do mundo significa que não nos identificamos com o mesmo sistema de injustiça, muito embora haja igrejas que estão plenamente identificadas com este sistema. É o caso das igrejas evangélicas na África do Sul que apoiam o maligno regime de Apartheid.

Jesus, orando ao Pai, pediu: "Não peço que os tires do mundo, mas os livre do mal... Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os envio ao mundo" (Jo. 17:15,18).

Mais do que ninguém, nós os cristãos temos responsabilidade para com a preservação da natureza. Uma vez que a nós foi dada a fim de cuidar e preservar corno bons mordomos.

Mordomia é comumente tratada por nós apenas no que se refere a contribuições financeiras, isto talvez seja levado pelo pensamento capitalista de que "dinheiro compra tudo". Pode até ser diferente, mas o que tenho visto e ouvido sobre mordomia tem tratado muito mais de finanças.

Nisto reside nossa responsabilidade: precisamos estar atentos para a mordomia do meio-ambiente, para a preservação da natureza. Isto nos foi legado por Deus após criar toda a majestade da natureza, olhou-a com carinho e vinque era bom, quem somos nós para dizer que ela não deve ser preservada, ou mesmo que é coisa do mundo e então não devemos nos meter? "E viu Deus tudo quanto tinha feito..."

A responsabilidade é nossa, infelizmente somente agimos depois que o mesmo mundo por nós condenado vem e nos abre os olhos para vermos que eles estão fazendo aquilo que Deus confiou a nós. O homem peca por destruir algo divino e a si próprio; nós, além de estarmos incluídos neste grupo, ainda pecamos pelo desinteresse e apatia quanto à nossa tarefa. O mundo que está sendo destruído é o mundo de Deus, uma vez que Ele próprio diz: "A terra é do Senhor" (Ex. 9:29).

A partir do momento que não participamos das lutas contra as grandes queimadas na Amazônia, ou a poluição dos rios, ou as inundações camadas pelas hidrelétricas, ou o comércio de peles e couro de animais, estamos permitindo que o homem destrua uma das fontes de revelação de Deus: a natureza. Nos Salmos 19:1, 97:6 e com Romanos 1:20, encontramos a natureza dando testemunho da grandiosa glória e poder de Deus. É verdade que a revelação de Deus através da natureza é apresentada de forma indireta. Não devemos cultuara natureza, mas sim preservá-la.

O universo, a natureza, o meio-ambiente, a fauna, a flora, o homem, enfim tudo está aguardando a nossa ação em seu favor. Isto é o que encontramos em Romanos 8:19-22; "A criação aguarda com ardente expectativa a revelação dos filhos de Deus, porquanto a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa daquele que a sujeitou na esperança de que também a própria criação há de se libertar do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda criação conjuntamente geme e está com dores de parto até agora".

Aqui está expressa claramente a participação dos gemidos dos filhos de Deus nos gemidos da criação. A criação está aí para dar seu esplendor e livrar-se deste gemido, assim também como o homem. A igreja, a juventude, ou mesmo um membro em particular, pode dar início a um movimento cristão de preservação da natureza, ou simplesmente estar demonstrando interesse em livrar a criação destes gemidos. Isso pode ser feito através de passeatas ecológicas, que podem ser realizadas em conjunto com a realização de congressos e convenções. Ainda pode haver manifestos das igrejas opinando sobre determinadas questões ecológicas, mostrando assim que a igreja está preocupada e sente-se responsável pela propagação dos valores do Reino de Deus.

Uma outra ação é a exigência do cumprimento de medidas governamentais que venham beneficiar a todos com relação ao meio-ambiente, assim também como em outros aspectos da vida. A igreja deve ser sempre vanguarda e não retaguarda como tem sido. Podemos promover encontros ecológicos para conscientização, plantio de árvores, engajarmo-nos em movimentos e instituições de defesa ecológica como: Mar Azul, IBAMA, Projeto Mico-Leão Dourado e muitos outros. O importante é cumprirmos o que é de nossa inteira responsabilidade. A natureza foi feita para nós. Vamos preservá-la. Não vamos deixar que continuem a destruí-la, ainda podemos fazer muito.

Vamos unir nossa força em busca de um mundo melhor, a fim de que continuemos a olhar os lírios do campo e as aves do céu.


Alverson Luiz de Souza é Prof. da Faculdade Teológica de Campinas-S

Fonte: Jornal El Shadai, nº2, pág 11, Outubro 92.


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