quinta-feira, 14 de janeiro de 1993

Vencendo a depressão

"Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim?" Esta declaração solene encontra-se duas vezes no Salmo 42 e é repetida no Salmo 43. Segundo alguns estudiosos, a palavra hebraica traduzida em português como "abatida" significa literalmente "curvar-se até embaixo", "sentar-se no chão como um pranteador", "inclinar-se em profundo gemido e lamento". O sentimento de inigualável tristeza do salmista pode ser traduzido hoje em um problema sério que vem atormentando a vida de mais e mais pessoas e que médicos e psicólogos definem como depressão.

Em todas as épocas e principalmente nos dias de hoje, muitas pessoas passam experiências semelhantes a do escritor sacro. Cada vez mais, os consultórios médicos são frequentados por pessoas infelizes, desanimadas, sem a alegria para nada, frequentemente cansadas mas sem nenhuma doença física que possa justificar tais sintomas. Fatos da vida cotidiana que antes eram fonte de prazer, agora parecem sem significado algum. A depressão é marcada ainda por outros fatores que a identificam bem: o rendimento escolar, ou no trabalho, cai muito, sendo nova fonte de angústia.

Os especialistas dividem este problema em dois tipos distintos: a depressão primária e a depressão secundária. A primeira é caracterizada por desordens do humor que não estão associados com qualquer outra forma de enfermidade psíquica ou física, nem com outras condições como o alcoolismo, por exemplo. Já a depressão secundária é aquela que surge no decorrer de enfermidades físicas ou de problemas de ordem mental. Existem algumas teorias para explicar a depressão. A maioria, entretanto, fala da relação entre a perda de um objeto ou ente-amado e a tendência para se desenvolver os sintomas da doença. O surgimento do problema é mais comum em pessoas que perderam, por exemplo, um dos pais, do que entre pessoas com pais vivos. O luto infantil, ou seja, crianças com menos de dez anos que perdem o pai ou a mãe, tem uma tendência maior a desenvolver depressão. Há também teorias puramente físicas demonstrando que pelo menos em muitos casos, as pessoas deprimidas teriam um desequilíbrio entre algumas substâncias no cérebro chamadas de neurotransmissoras.

É importante lembrar também que alguns fatores na vida facilitam a depressão como, por exemplo, o parto. O período pueperal é mais propenso a desencadear episódio depressivo do que fora dele. Além disso, vale lembrar que a depressão também é comum em crianças e é uma das causas frenquentes de insucessos escolares.

Apesar dos cristãos não serem imunes a depressão, a esperança do futuro glorioso tem uma influência benéfica nesses casos. Muitos evangélicos já declararam, ao passarem por processos depressivos, que se não tivessem uma consciência muito grande da sua doença e de uma convivência da paz de Deus teriam cometido suicídio. Dr. John White, psiquiatra, livre-docente da Universidade de Manitoba, membro de uma equipe pastoral de aconselhamento, afirma que "por mais significativas que sejam as causas físicas de nossas depressões, a compreensão das Escrituras, a esperança em Deus e unia conscientização de que nós, seres humanos, habitamos um mundo material e físico, são da máxima importância".

Existem vários sintomas comuns associados aos estados depressivos. É importante porém, enfatizar que um sintoma isoladamente não significa necessariamente que a pessoa sofra de depressão. Muitas características aqui citadas ocorrem também em outras situações diferentes. A depressão é evidenciada através da tristeza, sensação de inutilidade, cansaço ou astenia, diminuição da capacidade de concentração, perda do apetite, dor crônica, distúrbios do sono, ansiedade, indecisão ou insegurança, medo e choro fácil, diminuição do impulso sexual, hipocondria, redução da capacidade de experimentar prazer - anedonia e desesperança.

O tratamento da depressão baseia-se em três métodos: a psicoterapia, farmacoterapia e o eletrochoque. O primeiro é eficaz para depressões leves e moderadas. Nestes casos, pode ser desnecessário o uso de remédios, sendo a psicoterapia o único tratamento com bons resultados. A psicoterapeuta usa uma técnica em que ele ouve seu paciente, analisa e explica os seus sintomas e desse modo vai tirando a angustia e ansiedade, explorando cada possível fator envolvido. Nestes casos, o aconselhamento pastoral pode ser uma arma poderosa na luta contra a depressão. A Bíblia fala repetidamente na esperança no Senhor e sua resposta. Esta resposta pode ser a ajuda psicoterapêutica e também o tratamento médico bem instituído. Infelizmente, existem líderes evangélicos desinformados que atribuem aflições de suas ovelhas a pecados em suas vidas. Isto agrava ainda mais o problema, pois o pecado pode ser a causa da depressão, mas por outro lado, imaginem um servo fiel deprimido por doença, ainda levar a culpa deste problema. Isto significa culpar um doente por ter contraído, por exemplo, uma infecção de garganta.

O outro recurso é a farmacoterapia, ou seja, o tratamento da depressão através de remédios. Atualmente existem vários grupos de medicamentos anti-depressivos, com funções diferentes e em alguns casos específicos. Em casos mais graves com risco de suicídio, o paciente pode ser internado e nessas circunstâncias existem medicamentos que podem ser administrados por via endovenosa com bons resultados. O tratamento farmacológico pode ser acompanhado de psicoterapia e aconselhamento pastoral.

O eletrochoque é uma opção eficaz para tratamento de deprimidos refratários graves, com risco de suicídio.

Depois desta visão panorâmica da depressão como problema médico, é importante incluir uma visão espiritual do problema. É interessante notar a frequência como o assunto é tratado nas Escrituras. °problema parece ter afligido o povo de Deus desde o princípio, pois tanto o Velho como o Novo Testamento tratam da questão. Há muitas passagens bíblicas que retratam momentos de angústias, tristeza e aflição. Este tipo de sentimento não poupou nem mesmo a Jesus Cristo, que como homem, sentiu depressão, como relata o livro de João, capítulo 11.

Muitas vezes pensamos que os salvos são superhomens, imunes a certos sentimentos. A verdade é que os seres humanos são susceptíveis a esse tipo de sofrimento e não há porque se envergonhar disto, mas sim procurar as causas, levando em consideração o fato de que aquele que crê em Deus tem um grande arma para superar quaisquer dificuldades.

** Extraído do estudo elaborado pelo Dr. Helio Hiller de Mesquita - Neurologista - Membro da Primeira Igreja Batista de Araçatuba.


Fonte: Jornal El Shadai, nº6, pág 12, Janeiro 1993.

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