domingo, 1 de novembro de 1992

Grupo de ex-detentos faz evangelização

O Grupo dos ex-detentos surgiu em abril de 92 tendo como objetivo realizar um trabalho de evangelização nos morros, favelas, presídios e delegacias.

Chico Ferreira/ Editora Três

Constituído por 20 homens e duas mulheres, todos com passagens pela marginalidade, o grupo conhece as problemáticas e as carências do homem preso, por isso percebeu que poderia ter uma participação significativa na ressocialização e reintegração do ex-preso à sociedade. Independente do delito que tenha cometido, a única restrição que o grupo faz é que o preso seja convertido, aceitando Jesus Cristo.

Para os fundadores do grupo Miguel Fernandes Moraes Neto e o diácono Heitor de Paula, uma das maiores dificuldades desses homens tem sido encontrar emprego. Ambos são unânimes em afirmar que a sociedade deveria ajudar o ex-preso nesse aspecto facilitando sua reabilitação.

Miguel Fernandes diz que alguns moram com as famílias e os demais ficam na Casa de Recuperação, entretanto, todos participam de estudos bíblicos e dos cultos realizados na primeira Igreja Batista de Ricardo de Albuquerque, onde também está instalada a Casa de Recuperação, cedida pela igreja.

O ex-detento frisa que a intenção é transformara casa num verdadeiro "lar", acabando com a imagem degradante dessas instituições. Ele ressalta que há muita omissão das autoridades em relação ao assunto, por isso pretendem realizar um trabalho sério, concreto. "Através da evangelização, além de estarmos proclamando a palavra do Senhor, estamos também combatendo as drogas e a influência dos traficantes", enfatiza.

Segundo Miguel, o grupo tem atuado no Campo de Santana, parte da Central do Brasil e na Praça Tiradentes, "mas não existe temor em evangelizar nesses locais, porque existe uma identidade em comum". "A visão que temos do submundo é diferente da que é vista pela sociedade", complementa.

A luta não é contra o homem, e sim contra as trevas

Miguel diz, ainda, que o grupo não receia o homem que está do lado da violência ou que não conhece a palavra de Deus, porque a luta é espiritual. "Lutamos contra as trevas que cercam os homens desorientados."

Apesar de todo o preconceito e discriminação, o ex-detento enfatiza que o grupo tem recebido muito apoio da Junta Social da Convenção Batista Carioca, através de seu secretário geral Henrique César. Menciona, também, a ajuda das igrejas batistas de Ricardo de Albuquerque, Freguesia e do Cachambi, que, além de alimentos, dão apoio moral, social e espiritual. Voluntários das igrejas têm dado assistência social e odontológica, além de alfabetizar alguns do grupo", acrescenta.

"Apesar de todas as dificuldades — ressalta Miguel —, os ex-detentos estão enfrentando os preconceitos com fé em Deus". Ele finaliza, afirmando que para o preso se reabilitar é preciso um trabalho espiritual e que eles que já passaram pela experiência do cárcere saibam o quanto importante o apoio e a esperança contidas na palavra do Senhor Deus".


Fonte: Jornal El Shadai, nº3, pág 4, Novembro 92.

Nenhum comentário:

Postar um comentário