domingo, 1 de novembro de 1992

Cáries - A Prevenção é a Solução


O Brasil tem um dos históricos de saúde bucal mais trágicos do mundo. A cada ano, os brasileiros perdem 50 milhões de dentes. Mas os números não param por aí, 99 por cento da população é afetada pela cárie dentária e 60 por cento das pessoas até 40 anos já perderam a metade dos dentes. Estes dados são realmente alarmantes, porém o problema pode ser evitado através de um recurso simples: a PREVENÇÃO. Combater o surgimento da cárie e, posteriormente, a perda do dente pode ser mais simples do que muita gente imagina e muito mais barato do que tentar, mais tarde, remediar o problema na cadeira do dentista, como aconselha a dentista Beatriz Guimarães Kozlowski, do SESAB — Setor de Saúde e Bem-Estar Social da Petrobrás.


A prevenção da cárie não é um processo difícil de ser empregado. Entretanto, o primeiro passo é conhecer todos os aspectos da doença e como ela se instala. De acordo com estudos elaborados pela A.B.C. (Associação Brasileira de Odontologia), tudo começa com a placa, que é uma película que recobre os dentes, de origem salivar, onde se aderem os micro-organismos (bactérias) que vivem na boca. Todas as vezes que o indivíduo se alimenta, as bactérias também se alimentam e produzem um ácido que ataca o esmalte dos dentes, retirando os minerais e enfranquecendo-o. A partir daí, formam-se manchas brancas que já são indícios de cáries. Porém, o organismo se defende. A saliva tem mecanismos para acabar com este ácido, recuperando os minerais do esmalte e fazendo com que a mancha desapareça, juntamente com a futura cárie. O problema é que esta agressão, se repetida, sem a limpeza correta e um espaço de tempo adequado, não permite que a saliva tenha forças para acabar com este ácido, fazendo com que a doença se instale de vez. Sendo assim, dois pontos são importantes no processo de prevenção do surgimento desta doença infecciosa: a alimentação adequada e a higiene correta da boca.

CÁRIE X ALIMENTAÇÃO CORRETA

A dentista Beatriz Guimarães Kozlowski desenvolve um trabalho especificamente direcionado para a prevenção e orientação das formas corretas de se conservar a saúde da boca. Segundo ela, não tendo açúcar, não tem cárie, porém isto é bastante difícil, pois o açúcar está muito presente na alimentação diária. "O importante é se educar para colocar este produto dentro dos horários de refeição. O que faz a proteção natural da gente é a saliva, e ela só é ativada em quantidade para executar a proteção dentro do horário de refeição", esclarece a dentista. O problema da cárie é uma repercussão da saúde total do organismo, isto quer dizer, se o indivíduo não tem uma alimentação correta e nos horários estabelecidos, dificilmente conseguirá ter bons dentes.

Ao contrário do que muita gente imagina, a solução não é escovar os dentes sempre que ingerir um alimento. "Se, por exemplo, no meio da nossa conversa, eu comer uma bala e, logo após, correr para escovar os dentes, não vai adiantar nada, pois eu estou com uma produção baixa de saliva, as bactérias estão armazenando açúcar para produzir o acido e causar as cáries", afirma a Dra. Beatriz. Segundo ela; nestes casos, é mais vantajoso comer logo em seguida alimentos que neutralizem o efeito do açúcar, como o queijo de minas, o leite puro e o amendoim sem confeito.

Existem alimentos com maior poder cariogênico (ver tabela). Desta forma, é importante fazer uma escolha do que será ingerido, principalmente nos períodos entre as refeições. Deve-se evitar sempre o consumo de bebida ou alimentos açucarados, principalmente aqueles que grudam nos dentes. Se o consumo do açúcar não pode ser evitado, faça-o apenas durante as refeições principais. "Existem hoje açúcares menos cariogênicos, como a estévia, o aspartano e outros. Hoje em dia, existe uma linha muito grande de produtos menos perigosos para a saúde dos dentes", acrescenta a dentista.

A LIMPEZA DOS DENTES

Além da alimentação correta, outro fator que compõe a prevenção é a higiene dos dentes. Segundo a Dra. Beatriz Kozlowski, a escovação é responsável por 70 por cento da limpeza bucal, ficando os outros 30 por cento sob responsabilidade do fio dental.

A escolha da escova é um ponto importante que garantirá o sucesso do processo. Ela deve ter o cabo reto, cabeça pequena, cerdas macias ou extra macias com pontas arredondadas e todas da mesma altura. "Antigamente existia a ideia de que a escova dura é que era a ideal, porém hoje ficou provado que ela causa a retração gengival". Uma escova de dentes dura de dois a três meses. Passando este período, o índice de desgaste é tão acentuado que não faz nem 50 por cento da limpeza que deveria fazer quando nova.

O fio dental atua neste processo como agente indispensável. Ele deve ser passado entre cada dente até bem próximo à base da raiz, penetrando levemente por sob a gengiva para que todas as impurezas sejam retiradas. A dentista costuma convencer os seus pacientes da importância do fio dental, afirmando que escovar os dentes e não passar o fio faz o mesmo efeito que tomar banho e não lavar as axilas. O bochecho com soluções que contenham flúor periodicamente também é bastante aconselhável, pois este elemento aumenta a resistência contra os ataques das bactérias. O flúor tem o poder de remineralizar o esmalte, recuperando o tecido. O creme dental também deve ser escolhido tendo como critério a presença do flúor. A quantidade ideal de creme na escova não deve ultrapassar o tamanho da ponta do dedo mínimo. O excesso de pasta prejudica a escavação, pois provoca muita espuma e a ardên cia faz com que a pessoa termine o processo antes do tempo. Segundo a Dra. Beatriz, a higiene da boca, principalmente a da noite, que é a mais importante, deve ser feita com bastante calma e cuidado, levando, se possível, cerca de dez minutos entre o uso do fio dental e a escovação. Para ela, não existe uma técnica específica, bastando que todos os dentes sejam alcançados tanto frontal, quanto lateralmente.

A PREVENÇÃO NA CRIANÇA

A prevenção da cárie nas crianças deve começar antes mesmo do seu nascimento. A alimentação durante a gravidez é muito importante não só para a mãe como para o bebê. A futura mãe deve deixar de lado o açúcar, bebidas alcoólicas, gorduras, dando preferência a alimentos sadios como legumes, frutas e verduras. Por volta do quarto mês de gestação, o bebê começa a desenvolver o seu paladar. Isto significa dizer que, se a mãe comer muito doce, certamente a criança vai sentir necessidade de ingerir o produto, criando uma certa dependência.

Após o nascimento, a mãe já deve tomar certos cuidados com a higiene da boca do bebê, mesmo antes do surgimento dos primeiros dentinhos. Segundo a dentista, é importante que após a mamadeira, a mãe passe suavemente a ponta de uma frauda limpa na gengiva, bochechas e língua da criança para retirar as impurezas que são um prato cheio para as bactérias. Deve-se ter cuidado também em relação à não transmissão da doença para o bebê. Isto porque a cárie é transmissível, por ser causada por micro-organismos. Dessa forma, a mãe ou a babá deve evitar provar a papinha do neném com a mesma colher que será usada por ele e até mesmo não beijar a criança muito próximo a sua boca.

Muitas pessoas desconhecem um problema sério chamado "cárie de mamadeira". O açúcar usado para adoçar o leite do bebê, o chazinho ou até, para tornar a chupeta mais atraente, causa problemas graves que serão refletidos não só na dentição de leite, como na permanente. Muitas crianças chegam a ter todos os dentes cariados, devido à falta de esclarecimento dos adultos.

Quando uma criança já está um pouco maior, a atração pelas balas e doces torna-se a grande vilã e inimiga número um dos dentes. O hábito é incentivado pelos próprios adultos que oferecem balas para cativar as pequeninos. Porém, é bom lembrar que os doces cativam não só a criança, mas também as bactérias e por isso os excessos devem ser evitados. As regras de limpeza e alimentação se aplicam também às crianças e devem ser estimuladas e orientadas pelos pais. Desta forma, quando adultas, elas terão a oportunidade de ter uma saúde bucal plena e real, além de um lindo sorriso.


QUADRO INDICATIVO DOS ALIMENTOS COM MAIOR E MENOR PODER CARIOGÊNICO


Grupos de Alimentos Alimentos mais Cariogênicos Alimentos menos Cariogênicos
Laticínios Chocolate (tipo nescau)
"milk shake"
iogurte de frutas
chá/café/leite com açúcar
leite
queijo
iogurte natural
chá/café com adoçante
Frutas & Verduras Conservar de frutas
geleias
frutas secas
maçã do amor
cenoura glaceada
todas as frutas frescas e
todos os tipos de verduras
e vegetais
Carnes Carnes com temperos
adocicados ou glacê
carnes em geral
(boi, porco, peixe, galinha)
Cereais Bolos, tortas
pão/tomada com geleia
pão/torrada com manteiga
massa, arroz
feijão
Doces Doces em geral
balas, confeitos
sorvetes, chicletes, chocolate
chicletes sem açúcar
Bebidas Refrigerantes
sucos artificiais
água mineral
refrigerantes dietéticos
sucos de frutas naturais
sem açúcar
Lanches Pizza/cachorro-quente/hambúrguer
com "ketchup"e ingredientes
ou molhos doces
pipoca doce
pizza/cachorro-quente/hambúrguer
sem "ketchup" e ingredientes
ou molhos doces
pipoca salgada
batata-frita

Fonte: Jornal El Shadai, nº3, pág 3, Novembro 92.

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