domingo, 1 de novembro de 1992

Auto-exame e preventivo são as melhores armas

O câncer de mama e o câncer do colo do útero são dois problemas sérios que atingem grande parte da população feminina brasileira. Se não detectado em suas formas iniciais, o câncer pode levar à morte, o que acontece com frequência no Brasil. Apesar de ser um problema grave, o câncer pode ser descoberto e tratado sem riscos para a paciente. Porém, isto depende exclusivamente da mulher que tem a possibilidade de notar a presença do tumor cancerígeno da mama através do autoexame e até evitar o surgimento do câncer do colo do útero, fazendo periodicamente o exame preventivo. O que acontece muitas vezes é que o medo e a falta de informação faz com que a mulher só procure ajuda médica quando a doença já se apresenta em estágios tão adiantados que a cura se torna difícil e altamente sofrida.


O CÂNCER DA MAMA

A região Sudeste do Brasil apresenta o maior índice de incidência de câncer de mama no país. De acordo com o Dr. Oscar Jesuíno da Silva, vice-diretor do Centro Ginecológico Luíza Gomes Lemos, apesar de todos os esforços na realização de pesquisas e avanços, a taxa de mortalidade nestes casos tem se mantido estável nos últimos anos. Segundo o médico, a sobrevida de pacientes portadores desta doença está muito ligada à fase em que o problema seja diagnosticado. "Um dos recursos mais acessível para detectar o câncer de mama num estágio que ele ainda seja curável é o autoexame", afirma o especialista.

Maria Inês Noronha
Dr. Oscar Jesuíno da Silva

De acordo com Dr. Oscar Jesuíno da Silva, há uma relação muito direta entre o tamanho do tumor no momento do diagnóstico e do tratamento e a sobrevida do paciente. "Quanto maior o tumor, menor a possibilidade de cura daquele problema", garante. Desta forma, quanto mais cedo a mulher descobrir o nódulo cancerígeno, maiores as chances de sobrevivência e de se submeter ao tratamento sem a necessidade da mutilação através da mastectomia. E neste ponto que está a importância de se difundir a necessidade de as mulheres realizarem o autoexame das mamas.

O teste consiste na própria mulher apalpar ambos os seios à procura de nódulos ou qualquer alteração de tamanho, formato ou vermelhidão. O autoexame deve ser feito mensalmente, sempre após o período menstrual. Para as mulheres que já alcançaram a menopausa, o exame deve ser realizado no mesmo dia de cada mês. Qualquer mudança precisa ser observada, inclusive nos bicos das mamas. O exame deve ser feito em pé diante do espelho e deitada, apalpando toda a região dos seios até as axilas, pressionando levemente o bico para detectar a presença de sangue ou líquido escuro.

Os especialistas recomendam que a prática do autoexame mensal das mamas comece aos 25 anos, ou mais cedo, se houver um histórico de câncer na família. Segundo o Dr. Oscar, as pacientes que são diagnosticadas e tratadas no estágio um da doença, que é o inicial, tem uma possibilidade de vida em torno de 80 a 90 por cento. Isto sem a necessidade do uso da mastectomia, que é a retirada da mama afetada pelo câncer.

De acordo com o médico, nos países em desenvolvimento, a incidência do tratamento do câncer em estágios mais avançados ainda é muito grande, superando em dois terços o que acontece no Primeiro Mundo. "A realidade brasileira é que mais da metade das mulheres só procuram assistência médica na fase avançada da doença", revela o especialista. Para ele, isto só vai acabar quando o assunto for amplamente discutido e divulgado entre a população.

É importante frisar que um grande percentual de mulheres que procuram o médico, devido à presença de nódulos no seio, não tem tumores de origem maligna. Porém, esta confirmação só pode ser dada pelo especialista, que deve ser procurado imediatamente após a descoberta de qualquer alteração nas mamas.

O CÂNCER DO COLO DO ÚTERO

Outro problema que aflige as mulheres, principalmente de regiões mais pobres, é o câncer do colo do útero. Ao contrário do câncer de mama, no colo a doença pode ser detectada antes de sua instalação definitiva. Para que isso aconteça, é necessário se fazer o exame preventivo, que é uma espécie de coleta do material encontrado no colo do útero que, levado ao laboratório, vai indicar ou não a presença de lesões com características de se tornarem um câncer.

O preventivo não tem o objetivo de rastrear o câncer, mas sim detectar lesões que vão mais tarde se transformar na doença. "O método de se diagnosticar as displasias é simples, econômico, indolor, rápido e eficiente", esclarece Dr. Oscar. Segundo ele, neste estágio, o problema é 100 por cento curável. Falando de forma popular, estas lesões são alterações das células que sofrem, além do processo inflamatório, mudanças que tenham potencial para se tornarem malignas. Segundo Dr. Oscar, os tratamentos para esses distúrbios precursores podem ser feitos através da cauterização (com o uso do lazer ou não) e através do processo cirúrgico, quando o estágio já é mais avançado.

De acordo com estudos realizados pelo Instituto Nacional do Câncer, o exame preventivo pode ser feito com intervalos de três anos, a partir da primeira relação sexual. Como garantia, as duas primeiras vezes devem ser feitas com um espaço de seis meses para atestar a veracidade do primeiro resultado.

Se uma mulher chega a morrer por causa de um câncer no colo do útero é porque alguém tem culpa no cartório. Ou o Governo que não deu condições para se fazer o preventivo, ou o médico que não orientou a paciente, ou a mulher que, sabendo da importância do exame, não o fez". A declaração é da ginecologista Emília Rebelo Lopes, médica do Instituto Nacional de Câncer e coordenadora do PRO-ONCO. Para ela, o importante é divulgar a existência deste recurso e tirar o medo das pessoas. "E necessário acabar com o estigma de não se falar sobre esta doença para que as pessoas conheçam bem o assunto e assim possam se proteger do problema", finaliza a médica.

Fonte: Jornal El Shadai, nº3, pág 5, Novembro 92.

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