quinta-feira, 1 de outubro de 1992

The Day After

por Guilhermino Cunha Advogado, Teólogo

O povo brasileiro deu uma demonstração de democracia para todo o mundo. Na verdade o "impeachment" do Presidente Collor foi decidido nas ruas e votado na Câmara dos Deputados. Naquele histórico dia, uma jovem estudante emocionada falando sobre o Vice-Presidente Itamar Franco declarou: "Se ele não andar direito, nós o tiraremos de lá também". Isto é democracia quase direta.

De fato, "o Poder pertence ao povo e em seu nome, e por delegação explícita dele, é exercido". Quando o povo elege os sem representantes delega-lhes, apenas, o exercício temporário do Poder, mas continua sendo titular inquestionável do Poder. Isto ficou duro neste episódio de votação, não do "impeachment", pois o que a Câmara votou foi a autorização para que Senado inicie o processo de impedimento do Presidente Collor.

Quem julga é o Senado no caso de crime de responsabilidade. O Presidente, iniciado o processo, é afastado do Poder por 180 dias ou até concluir o processo. Ele terá amplo direito de defesa e o direito inalienável de renunciar, a renúncia evita-se a inelegibilidade por 8 anos, mas deixa muitas dúvidas por responder sobre sua idoneidade moral. Nesta altura, não vemos saída honrosa.

No dia seguinte ao "impeachment", o Brasil amanheceu de cara nova e de alma lavada, não houve lugar para o Sinistro "day after" do filme-catástrofe norte-americano. Na verdade, o dia seguinte significou um novo amanhecer da esperança no coração do sofrido povo brasileiro. É preciso lembrar quem era o alvo, o sujeito, o agente da CPI. Há muito mais gente envolvida e em especial o personagem trágico destas investigações: Paulo César Farias. Defendemos o direito do povo brasileiro de acompanhar ao vivo e a cores não somente a sessão do Supremo Tribunal Federal ou da Câmara dos Deputados, mas também o julgamento exemplar de todos os envolvidos nas CPIs em curso, isto em nome da justiça, do direito, da moral e da ética na política, na vida econômica e social deste País.

As figuras do bode expiatório e do bode emissário são bíblicas, entretanto, corremos o risco de fazer do Presidente Collor um bode expiatório em toda esta situação, principalmente, se deixarmos por apurar as demais corrupções e punir os corruptos.

Se você ler o Levítico 16:7 a 10 perceberá que o bode expiatório era morto por causa do pecado dos outros e que o bode emissário era apresentado vivo perante o Eterno e depois enviado ao deserto, sem retorno, levando as iniquidades, transgressões e pecados dos filhos de Israel. Ora, bem sabemos que sacrifícios e sangue de touros e cabritos não podem lavar a mancha desta nação brasileira, mas sim o sangue do Cordeiro de Deus, Jesus, que morreu por todos, mas que salva e perdoa, apenas, aos que Dele creem.

Vamos continuar acompanhando atentamente a formação e a performance do Governo Itamar Franco. Pedimos a Deus que o ilumine e que lhe dê sabedoria do alto para governar o Brasil. Assim, o "day after" será de esperança e de paz para todos os brasileiros.


Fonte: Jornal El Shadai, nº 1, Outubro de 1992, página 2.


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