domingo, 14 de novembro de 1993

A igreja que é um parque de diversões

Com grupos de rock e até videogames, os pastores evangélicos conquistam mais fiéis entre os jovens.

grupo yehoshua
Grupo Yehoshua

"Ô, ô, sangue bom é o Senhor".

Senhor? Ele mesmo: usando o nome de Jesus Cristo como bandeira, as igrejas evangélicas formaram, nos últimos anos, uma legião urbana de mais de 20 milhões de jovens, ou seja, quase 15% da população do Brasil - de acordo com os cálculos da Associação Evangélica Brasileira (AEB). Multimídia é a Bíblia dessa garotada, que usa programas de computador recheados de versículos, disputa a batalha de Jericó em videogame, e escuta grupos de rock, lambada, samba-reggae ou funk evangélicos - como provam os versos da banda Yehoshua (Jesus em hebraico), a do "sangue bom". O santo nome do Senhor chegou até o underground. Carecas, skinheads, punks e outras tribos estão se preparando para fundar a primeira igreja evangélica ligada ao mundo da contestação.

skinhead gospel

A imagem do "crente careta", de bíblia debaixo do braço, saia comprida, terno e gravata é coisa do passado. Os jovens cristãos vão ao cinema - e não fecham os olhos nas cenas mais ardentes - usam short e minissaia e até freqüentam barzinhos, arriscando um copo ou outro de cerveja. Também namoram e muito, mas, aí, começam as diferenças. As moiçoilas não evangélicas podem começar a correr atrás: os rapazes são fiéis. De verdade. A tal ponto que muitos se casam virgens. Mas romper a barreira da religião nem sempre é fácil.

- Namorei uma menina não evangélica e ela tinha ciúmes de Jesus. É lógico que não deu certo e terminamos muito mal - lembra Daniel Contreras Gutierrez, de 15 anos, da Igreja Presbiteriana Bethânia.

moda gospel
Moda gospel nas lojas

A juventude não se limita aos bancos dos templos. O pop não poupa ninguém - como pregava um antigo sucesso dos Engenheiros do Hawaii -, e cria até a figura do pastor pop: Marco Antônio Rodrigues Peixoto, de 39 anos, da Comunidade da Zona Sul, no flamengo, trouxe ao Brasil a banda de rock Whitecross e virou ídolo entre a juventude evangélica.

E se a turma até os 25 anos já foi conquistada, as igrejas evangélicas começam a preparar o crente do futuro. Em dezembro estréia o primeiro programa de televisão destinado ao público infantil. Semanal, com uma hora de duração, terá desenhos animados - com histórias bíblicas, é lógico - brincadeiras e até uma apresentadora. Beijinho, beijinho, aleluia, aleluia.

djalma mesquita e Benilton Maia
VM Show apresentado por Benilton Maia (dir) e Djalma Mesquita
Fonte: Jornal O Globo, pág 26, domingo, 14 de novembro de 1993.

sexta-feira, 5 de novembro de 1993

O grupo americano Whitecross se apresenta em festival de ´gospel` no Sambódromo

Te esconjuro, Madonna. Um exército formado por 16 bandas evangélicas vai empunhar bíblias e guitarras na Praça da Apoteose nesta sexta e sábado (dia do show da blondie). E promete lotar o Sambódromo dois dias seguidos durante o Gospel Power Festival. Quem lidera o batalhão é o grupo americano de heaven metal Whitecross, bando cabeludo adorado pela tchurma evangélica, que se apresenta no Brasil pela primeira vez.

Além do destaque internacional, o festival vai colocar na dança a nata do gospel brasileiro. E já elegeu até sua Madonna: a louríssima Marina de Oliveira. Entre as atrações confirmadas, estão as bandas Rebanhão (o mais famoso grupo evangélico brasileiro, conhecido por seus hinos bem-humorados), a hard-rock Oficina G3, a paulista Resgate, a funkeira Kadoshi, o Novo Som _ que lançou o estranho ritmo gospel-charm e que se firma como a atual febre da rapaziada cristã _ e a banda Katsbarnéa, que está no terceiro disco bem sucedido. O ingresso, como convém a um concerto evangelicamente correto, é um quilo de alimento não perecível.

Gospel Power Festival - Praça da Apoteose, Centro. 6ª, às 19h, e sáb., às 17h. O ingresso é um quilo de alimento não perecível.



Fonte: Jornal do Brasil,  05/11/1993.


segunda-feira, 1 de novembro de 1993

Ajuste fiscal prevê quebra de sigilo bancário

A proposta de reforma fiscal que o Governo encaminhou ao Congresso Nacional irá alterar 25 dispositivos da Constituição, inclusive permitindo que o Ministro da Fazenda, Gustavo Krause, quebre o sigilo bancário de pessoas físicas e empresas suspeitas de sonegação. A proposta determina ainda a extinção de cinco impostos e a criação de quatro novos tributos, que vão auxiliar a União a obter em 1993 ganho adicional de 15 bilhões de dólares.

O Governo propõe a criação do Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira, do Imposto sobre Ativos, do Imposto Seletivo e da Contribuição sobre o Valor Agregado. Quer ainda a eliminação do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI), do Fin-social, do PIS/Pasep, da Contribuição sobre o Lucro e do Imposto sobre Vendas a Varejo de Combustíveis.

Fonte: Jornal El Shadai, nº3, pág 7, Novembro 1992.

segunda-feira, 25 de outubro de 1993

Gospel Power Festival

Assinado: entre a Riotur e o pastor Marco Antônio Ribeiro, o contrato para a realização do Gospel Power Festival, que pretende levar para a Praça da Apoteose, nos dias 5 e 6 de novembro, uma platéia de mais de 200 mil pessoas, quando o local não comporta nem 10% dessa lotação. Oferecendo o grupo de gospel White Cross como trunfo, a comunidade evangélica quer arrebanhar as ovelhas desgarradas do Maracanã, onde a loura mais erótica do planeta faz show no dia 6. Madonna que se cuide.


Fonte: Jornal do Brasil, pág. 12, 25/10/1993.

domingo, 26 de setembro de 1993

Alma musical de uma "lady"

por Árik de Souza

CD duplo reúne em 38 faixas
o estilo de Aretha Franklin

A filha do reverendo Clarence Franklin _ um desses tótens de carisma evangélico, mix de pregador e show man - foi educada na motortown Detroit, com o gospel de Mahalia Jackson, o blues/jazz de Dinah Washington e o rhythm & blues de Sam Cooke e Clara Ward a domicílio. Aretha Franklin poderia ter seguido o caminho musical que lhe desse na cabeça, adornada pelo cabelo turbante armado com laquê. Em vez de solução, este ecletismo se transformou num problema. Entre 1960 e 1966, os executivos da Columbia atiraram em todas as direções mas não conseguiram emplacar Aretha Franklin no alvo da Lady Soul revelada nos discos seguintes I never loved a man (The way I love you) e Respect, da Atlantic. O CD duplo Jazz to soul, que acaba de ser lançado, inventaria estes rascunhos com rara franqueza em 38 faixas que valem como um rallie estético. O disco prova que Aretha já nasceu feita. Ou quanto é surda a indústria musical.

A decisão pela carreira artística da garota nascida em Memphis, em 1952, baixou numa cena teatral durante uma cerimônia fúnebre. O desempenho da ídola Clara Ward comoveu a adolescente Aretha. Contagiada, ela descobriu a cabeça e atirou o chapéu no chão. Outro reverendo, James Cleveland, frequentador da casa dos Franklin, orientou a pupila no vocal e piano. E ela tomou conta do culto dos domingos da Igreja Batista de New Bethel. Com apenas 14 anos estreou em disco gravado na igreja de Detroit para o selo JVP, The gospel souls of Aretha Franklin, reeditado pela etiqueta bluseira Chess Records, nos anos 60. O descobridor de talentos da Columbia, John Hammond (o mesmo que farejou de Billie Holiday a Bob Dylan), tarou pelo demo da cantora de Today I sing the blues, original de Helen Humes, de 1948. "Fiquei totalmente dominado pela voz", admitiu. Contratou-a antes da RCA, que corria atrás por indicação de Sam Cooke.

Aretha gravou nos estúdios da 30th Street, em Nova Iorque, a inicial Today I sing the blues (a que abre o CD duplo, pavimentada pelo piano de Ray Bryant e a guitarra de Lord Westbrook) um imediato sucesso que emendaria com Won`t be long (76º na lista da Billboard no começo de 1961) numa falsa ascensão rápida. A seguir, discos como The eletrifying Aretha Franklin e The tender, moving, swinging Aretha mostravam que os produtores, mesmo o craque Hammond, começavam a andar em círculos. Jazz to soul viaja dos corinhos doo-wop ao instrumental jazzístico. Fica a contribuição milionária de erros como o de tentar ir na cola do baiãozinho bossa soul gravado por Dionne Warwick Walk on by, ou emular Brenda Holloway em Every little bit hurts e Barbara Lynn em You'll lose a good thing.

Mesmo sem uma definição estilística, Aretha cintila nas homenagens a Dinah Washington (What a difference a day makes, Drinking again), em Muddy waters e na jazzy Love for sale, além da balada jazz Blue holiday. Nas antecipadoras Running out of fools, Trouble in mind e Bit of soul já se desenha o pedestal da Lady Soul, erigido pelo produtor Jerry Wexler, na Atlantic. Qual a mágica que a transformaria numa devoradora de Grammies, par perfeito para o modelito soul/gospel formatado pela garganta arenosa de Ray Charles? "Eu a fiz sentar no piano e levei-a de volta à igreja", ensinou o produtor.



FONTE: Jornal do Brasil, pág 35, 26/09/1993.



sexta-feira, 23 de julho de 1993

Publicidade da Monark custará US$ 2 milhões

SÃO PAULO - A Monark investiu US$ 2 milhões na primeira fase da campanha publicitária, criada pela agência DM/9, que começa a ser veiculada no próximo domingo. Ao todo, são dois filmes, quatro anúncios para a mídia impressa, além de outdoors. O principal objetivo da campanha é mostrar a nova linha mountain bike Monark, que atualmente responde por 34% do volume de vendas da companhia.

"Até o final do ano a nossa meta é atingir 40% de vendas da linha mountain bike", diz Daniel Galindo, diretor de marketing da Monark. Os filmes criados pela DM9 foram feitos no Chile e as fotos produzidas no deserto de Utah, Colorado, e na Califórnia.

O filme de nome Paraíso mostra um ciclista subindo uma montanha com uma bicicleta mountain bike Monark. A câmera detalha o esforço e a luta contra os obstáculos e destaca os vários tipos de terrenos percorridos, como areia, argila, duna e rochas, todos no Norte do Chile. Na trilha sonora, um gospel exalta a determinação daqueles que tem fé e chegam onde querem.


Fonte: Jornal do Brasil, pág 76, 23/07/1993.



sexta-feira, 9 de julho de 1993

Pausa para os religiosos pregarem a Bíblia

TERESÓPOLIS, RJ, 09 (AE)

Depois do jantar, na inacessível concentração de Teresópolis, a rotina continua para Jorginho, Müller, Palhinha, Taffarel e Elivélton. Nada de carteado, novelas ou conversas sobre empresários que poderiam arrumar milionárias transações - divertimentos prediletos da maioria. Cada jogador pega a sua Bíblia e vai até o quarto marcado para o culto. Müller, que pretende ser pastor quando parar com o futebol, lê salmos em voz alta. O atacante pára quando encontra uma passagem significativa ou quando surge alguma dúvida sobre o significado de alguma metáfora.

"Seleção Brasileira e Deus são compatíveis. Não existe lugar no mundo que a pessoa não possa crescer aprendendo e debatendo sobre as palavras do Senhor - prega Müller. Os cultos evangélicos acontecem com a benção de Parreira, ele mesmo católico convicto. "Não vejo o menor problema. Pelo contrário, sinto que os jogadores ficam mais confiantes e tranqüilos depois de rezar. Não atrapalha o ambiente de jeito algum", assegura.

Já houve o tempo em que os Atletas de Cristo eram vistos como um bando de jogadores fracos de futebol ou de cabeça que buscavam apoio em Deus para os seus males. Apontados como fanáticos, tinham de fazer os seus cultos escondidos dos treinadores. A situação mudou muito.

"A porta do quarto fica aberta. Quem quiser entrar e rezar com a gente é bem vindo. Não precisa ser convertido. Basta acreditar em Deus e querer o bem alheio. Nós temos uns visitantes esporádicos" - diz, alegre, Palhinha. "A gente sabe que a reunião deles começa lá pelas nove horas. Todo mundo respeita e procura não pertubá-los. Depois de meia hora, as orações já terminaram e voltam as brincadeiras para cima de todo mundo. Atletas de Cristo ou não. Já estou acostumado. No Palmeiras é o César Sampaio quem prega. Aqui é o Müller" diz Zinho.

O lateral Jorginho garante que não existe um trabalho forçado de convencimento para os jogadores mais novos assumirem a religião. Segundo ele tudo acontece ou não de uma forma natural:

"Nós evangélicos estamos ganhando muito espaço. A palavra do Senhor está sendo melhor entendida. Ganhando força espiritual estamos melhor preparados para todas as situações que forem surgindo em nossa vida. Quanto mais pessoas estiverem convertidas melhor. Mas não depende de ninguém. A pessoa adota a religião caso se sinta pronta para receber Deus" - jura.

O fanatismo é exconjurado. Nenhum jogador cristão esconde a ira quando tem de falar se sabe adotar a religião sem perder a noção da atividade esportiva escolhida para tirar o sustento. "De jeito algum. Vivem falando isso do nosso grupo, mas buscamos apenas Deus como qualquer outra religião. O que acontece é que somos jogadores conhecidos e isso impressiona", diz o futuro pastor Müller, que as segundas-feiras costuma promover cultos na sua casa em São Paulo.

Fonte: ©Agência Estado.Aedata 09/07/93.