Além de movimentar uma lista de best sellers liderada por títulos como
Ato conjugal, A Bíblia e o impeachment, Crente precisa de salvação as
livrarias evangélicas se converteram em bazares da fé. Discos, CDs,
fitas, posters, flâmulas, camisetas, bonés, artigos de decoração e
papelaria e uma infinidade de souvenirs vendendo frases como Eu amo
Jesus e Cristo salva estão nas estantes das grandes lojas do ramo como
a Betânia, Casa Publicadora das Assembléias de Deus, Junta de Edições
Religiosas e Vinde, em Niterói.
Outro filão são os hinários, comentários e manuais bíblicos além
das revistas Gente gospel, Mulher cristã, Lar cristão, Casal feliz e
Visão Missionária. ´´Vendemos uns 1.500 livros por semana de 20
editoras``, diz Lilian Ribeiro, da livraria Betânia. Na sessão de
discos, os LPs Tempos de visitação e Quebrando as maldições são os
maiores sucessos. ´´São músicas com louvores bem agitados, com palmas.
É animadíssimo``, diz Paulo Leonel, devoto da Assembléia de Deus, que
vende 30 LPs por dia, cada um por Cr$ 350 mil.
Bar diferente _ Parece um bar como outro qualquer, com clipes do
sexteto Take 6 no circuito de vídeo, neons e namorados em volta de
travessas de tira-gostos. Mas o recém-inaugurado Gospel Club, é um bar
evangélico. Sem um cinzeiro à vista, serve sucos, refrigerantes e
cerveja sem álcool e pretende se tornar o point da juventude evangélica
na Tijuca.
Os sócios Orlando César, José da Ponte e Roberto Lúcio, prometem mais.
Jogos de dardos e música ao vivo estão nos planos dos membros das
Igrejas de Nova Vida e Comunidade da Zona Sul, no Flamengo.
"Há uma visão distorcida do mundo evangélico, que tem o estereótipo do
crente chato. O pessoal vai a shows, teatros e aqui é um espaço para se
encontrar e levar um som", avisa Orlando, que toca com seus sócios uma
confecção _ a J.C. Infinity, com bonés, shorts e camisetas no melhor
estilo das boas butiques com mensagens como Jesus is my best company
(Jesus é minha melhor companhia).
De todos os estilos musicais, o que mais vem ganhando adeptos dentro da música gospel é o rock.
Dado o fato do público jovem estar demonstrando interesse crescente pelo gênero, a procura por bandas de rock é intensa.
De todas as que estão em atividade a mais bem sucedida é a carioca CATEDRAL.
Com onze anos de carreira, o CATEDRAL,
formado pelos irmãos Kim (vocal), Cézar (guitarra), Júlio (baixo) e por Guilherme (bateria),
faz um rock básico, com boas harmonias e repertório de qualidade.
Os discos do quarteto - onze ao todo - alcançam vendagens significativas,
principalmente a partir de 1994, quando foram para a MK Publicitá.
A banda surgiu há onze anos, período marcado pela estabilização do rock nacional,
que havia explodido num movimento que ficou conhecido como BRock.
Grupos como Paralamas do Sucesso, Titãs e Legião Urbana, entre outros,
falavam de amor, mas também de temas sociais e políticos como fome, miséria e corrupção,
caminho que também foi seguido pelo CATEDRAL.
Só que o quarteto sempre trazia soluções otimistas em suas letras, guiadas pelos princípios cristãos.
Catedral no palco: louvor e rock'n'roll
A incrível semelhança vocal de Kim (autor de todas as letras das canções gravadas pela banda)
gerou comparações inevitáveis entre o CATEDRAL e a Legião Urbana.
Isso acabou se tornando um fator positivo, pois o quarteto começou a chamar atenção além das fronteiras evangélicas.
"Fazemos um som que pode ser ouvido por todos, cristãos ou não", analisa Kim.
"Somos muito felizes por poder levar a Palavra de Deus a um número cada vez maior de pessoas".
E não é exagero. No ano passado, o quarteto lançou o álbum Catedral - 10 Anos,
gravado ao vivo em concorridos shows no Imperator (RJ), que deram origem também a um home video.
Kim, Cézar, Júlio e Guilherme já fizeram duas turnês pelos Estados Unidos com grande sucesso.
E no inicio de 98 saiu Catedral En Español, primeiro trabalho da banda destinado ao mercado latino.
"Queremos expandir nossa mensagem e a hora é essa", afirma Júlio, entusiasmado.
No recente Canta Rio, realizado no dia 8 de agosto na Praça da Apoteose,
Rio de Janeiro, cerca de 80 mil pessoas aguardaram debaixo de forte chuva pela entrada do CATEDRAL, que encerrava o evento.
Foi uma celebração da boa música cristã e a confirmação de que o CATEDRAL é a melhor banda do rock gospel nacional.
Júlio(esq), Guilherme, Kim e Cézar: onze anos de sucesso
SEPARADOS, MAS UNIDOS SEMPRE
Além do trabalho com o CATEDRAL, seus integrantes desenvolvem carreiras individuais.
Kim já gravou dois CDs, Coração Aberto e Um Sentimento, ambos bem sucedidos.
Cézar e Júlio lançaram o álbum instrumental Duo Project, que está alcançando boa vendagem.
E a MK vai lançar em breve duas vídeo-aulas onde o baixista e o guitarrista revelam os segredos de seus instrumentos e dão dicas valiosas de como se tornar um bom músico.
O NOVO TRABALHO
A Revolução, o décimo-segundo CD do CATEDRAL,
traz onze faixas que levantam a bandeira de uma 'revolução sem armas',
centrada na paz de espírito, no respeito a Deus e na tolerância entre os homens.
Duas das canções mais fortes são "Os Filhos de Caim",
direcionada àqueles que criticam a ousadia do grupo, e "Somos Todos Iguais",
um alerta com relação aos malefícios gerados pelas diferenças de crença.
O álbum foi lançado no dia 3 de novembro com um grandioso esquema promocional,
jamais verificado em se tratando do mercado evangélico.
Na véspera, dia 2, a banda fez um grande show no Metropolitan (Rio)
para um público estimado em quatro mil pessoas.
No dia 3, o CATEDRAL marcou presença em vários programas de rádios evangélicas em todo
o País via telefone e também participou de um animado bate-papo via Internet pelo Gospel Chat Café.
Algumas faixas do novo disco estão sendo veiculadas maciçamente em rádios evangélicas do País
e também em várias emissoras populares, prova de que o trabalho do CATEDRAL transcende fronteiras.
Tudo isso tem uma razão de ser: o CATEDRAL é sucesso, mas seus integrantes têm os pés no chão.
"Somos honestos no que cantamos, as músicas traduzem nossas idéias e pensamentos.
Só passando verdade conseguiremos atingir as pessoas", diz Cézar.
Aonde a banda pretende chegar?
A resposta é de Guilherme: "Ao coração das pessoas.
A mensagem do CATEDRAL leva à reflexão, à auto-análise.
Procuramos mostrar a quem nos ouve que o amor de Deus não tem limites.
Afinal, o Senhor deu seu filho Jesus Cristo para nos salvar, não é?".
Contra fatos, não há argumentos...
DISCOGRAFIA
Aqui, os melhores trabalhos do CATEDRAL, lançados a partir de 1994 pela MK Publicita
CONTRA TODO MAL (94)
O primeiro disco da banda na gravadora, traz rocks vigorosos, onde se manifesta a inquietude diante das guerras e da corrupção.
A faixa-título mostra fortes influências do som do Capital Inicial.
Outros grandes momentos ficam por conta de "Ver Estrelas e Sorrir",
canção no melhor estilo Legião Urbana (com bela letra, diga-se)
e dos rocks "Quem Me Dera" e "Rio de Janeiro a Dezembro",
este último, um dos grandes hits da banda e que fala da violência na Cidade Maravilhosa.
Há ainda uma música em inglês, "The Cry Of My Tears".
O SENTIDO (95)
Este álbum abre com a oração do "Pai Nosso" em levada de rock e segue com a faixa-título,
outro grande sucesso do quarteto. A lembrança do som da Legião é inevitável em "Quando o Verão Chegar".
A pegada de hard rock se faz presente em "Tempo", mais um hit.
A romântica "Amor Verdadeiro" é outro bom momento.
Mas o destaque mesmo fica por conta de urna excelente releitura de "Cathedral Song", de Tanita Tilaram,
gravada por Renato Russo no álbum The Stonewall Cellebration Concert, e também por Zélia Duncan.
A letra está metade em inglês, metade em português.
ETERNO (96)
Este é um dos mais bem produzidos discos da banda.
Todas as canções são de qualidade e os músicos dão o melhor de si.
"Hoje", que abre o CD, traz belas intervenções de Cézar na guitarra.
A letra de "Um Novo Tempo" é um chamamento para a felicidade através da fé.
"Terra de Ninguém" retrata a subversão de valores.
"Meio Sem Querer" é uma canção romântica.
Outros bons momentos são "Eu Quero Apenas Falar de Amor" e "Eterno".
CATEDRAL 10 ANOS - AO VIVO (97)
Gravado ao vivo no Imperator (Rio), este CD duplo marcou o décimo aniversário da banda.
O repertório traz 21 músicas, entre elas os grandes hits do CATEDRAL,
tais como "Um Novo Tempo", "Contra Todo Mar" e "Quando o Verão Chegar".
Um CD tem concepção acústica, enquanto o outro vem com levada elétrica.
Há, ainda, uma faixa interativa para computadores PC.
O show gerou também um home video, lançado pela MK.
CATEDRAL EM ESPAÑOL (98)
Direcionado ao mercado latino, este CD traz sucessos do grupo vertidos para
o espanhol como "Terra de Nadie" ("Terra de Ninguém"),
"Hoy" ("Hoje"), "Un Nuevo Tiempo" ("Um Novo Tempo")
e três faixas em inglês, "In The Neighborhood",
"Time For Everything" e "When The Summer Comes".
SOLOS
UM SENTIMENTO - KIM (97)
Segundo disco do vocalista do CATEDRAL.
Traz basicamente canções românticas falando do amor de Deus.
Júlio, Cézar e Guilherme, os companheiros de banda, fazem participações especiais.
O repertório tem como destaques "Haja o Que Houver",
"Chame a Deus", "Sinceramente" e "O Dom de Amar".
O CD tem uma faixa interativa com letras das músicas e informações sobre o cantor.
DUO PROJECT - CÉZAR & JÚLIO (98)
O guitarrista e o baixista do CATEDRAL mostram muita técnica e habilidade neste belo trabalho instrumental.
O repertório é composto por dez temas que vão do hard rock a baladas,
com destaque para "Sonhos", a terna "Um Novo Dia" e a funkeada "Zona Sul".
Há duas músicas com letra, "Sei Que Há" (vocal de Cézar) e "Tudo Para Mim" (com Júlio).
Fonte: Revista Shopping Music, nº11, págs 11-13, Dezembro 1998.
A pequenina, brejeira, carinha de sapeca, dona de um coração enorme.
Estes e outros adjetivos servem para classificar CASSIANE.
Uma das mais populares cantoras evangélicas do Brasil, com mais de 1 milhão e 200 mil discos vendidos,
ela vem conquistando um público cada vez maior em suas apresentações,
sejam elas em pequenas igrejas ou grandes eventos, graças ao seu belíssimo timbre vocal e a um domínio de palco impressionante.
Sem falar, claro, na verdade que suas canções transmitem.
Vinda de lar evangélico, a carioca CASSIANE começou a cantar desde muito cedo.
Já aos três anos, a espertíssima garotinha participava de cultos, encantando a todos por sua espontaneidade e fervor.
Era um caminho que começava a se delinear.
Com o passar dos anos, CASSIANE foi aprimorando sua arte e o que a princípio era apenas uma forma de louvar a Deus acabou se transformando num ministério,
levado adiante com fé, esperança, disciplina e determinação.
O repertório de CASSIANE é composto basicamente por canções de forte apelo cristão, que falam de temas variados,
muitos deles ligados ao dia-a-dia das pessoas.
Os ritmos vão de baladas a guarânias, passando até por xotes, todos de fácil assimilação.
Hoje, com mais de uma década de bem sucedida carreira e dez discos gravados,
sendo cinco pela MK Publidtá, CASSIANE coleciona enorme legião de fãs.
"Cantar, para mim, é um dom divino. Sinto-me honrada por Deus ter me dado essa oportunidade.
Não há nada melhor em minha vida do que ser uma cantora gospel", afirma, emocionada.
Aos 25 anos, casada com o maestro e produtor musical Jairinho Manhães, CASSIANE atualmente divide o tempo entre as apresentações -
a agenda está sempre lotada e os convites não param de chegar - e os cuidados com a pequena Jayane, sua primeira filha.
Mas ela não diminui o ritmo. "Há muito o que se fazer em benefício do povo de Deus.
Jairinho e Jayane estão sempre comigo, sendo minhas maiores fontes de força e inspiração!"
O novo disco
PARA SEMPRE Gravado sob a inspiração da então futura chegada da primeira filha,
este é seguramente o álbum mais emocionante da carreira de CASSIANE.
Dando provas de que segue sendo uma das vozes mais afinadas do gospel nacional,
a intérprete capricha no repertório, falando de temas como fé, devoção e família em doze bem selecionadas canções.
Algumas das melhores músicas são "Quem Conhece Deus", de Léa Mendonça, outra cantora gospel de qualidade,
o xaxado- isso mesmo, um xaxado! - "Tem Anjo Aqui" (Cassiane/Umberto Elias), daqueles que levantam o astral de qualquer um,
com direito a ótimas intervenções do sanfoneiro - dos bons - Agostinho Silva e "Para Sempre" (lsael dos Santos), com belo arranjo vocal.
A produção e direção musical são de Jairinho Manhães e o álbum foi gravado nos estúdios da MK em sistema digital.
PARA SEMPRE traz, ainda, uma faixa multimídia para computadores PC, com informações sobre a carreira de CASSIANE,
as letras das canções, fotos da cantora, entrevistas, o clipe de "Vou Seguir" e um catálogo geral da MK.
Fonte: Revista Shopping Music, nº11, pág 18, Dezembro 1998.
Está provado que uma das formas mais eficientes de se louvar a Deus é através da música.
Independente da crença, os hinos sempre se transformam nos momentos de maior alegria e fervor dos cultos e missas.
Claro que na música evangélica isso também se processa.
Os evangélicos, independente da igreja que sigam, têm na música um dos seus principais alicerces.
Tanto isso é verdade que o segmento musical conhecido como gospel acabou se transformando numa inesgotável fonte de talentos,
tornados conhecidos através da proliferação de gravadoras, revistas especializadas e até emissoras de rádio e televisão.
Esta edição de SHOPPING MUSIC ESPECIAL vem mostrar justamente a força da música
evangélica - ou gospel, como queiram - no Brasil hoje em dia, através do trabalho de uma das principais gravadoras do gênero,
a MK Publicita, que traz em seu elenco intérpretes como Marina de Oliveira, a banda Catedral e muitos outros.
Nas próximas páginas, você encontrará um pouco da história do gospel no Brasil e no mundo,
o trabalho da MK e informações sobre alguns dos grandes nomes que têm levado a Palavra de Deus através da música em nosso país,
em textos do jornalista Toninho Spessoto.
E de presente, o CD Natal Feliz, com dez canções interpretadas pelo grupo Kades Singers, acompanhadas dos seus respectivos play backs.
SHOPPING MUSIC ESPECIAL GOSPEL: um mergulho num universo que fascina e inspira.
Os Editores
Expediente:
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Fonte: Revista Shopping Music Especial, nº11, pág 3, Dezembro 1998.
Reverendo Al Green transforma abertura do Free Jazz no Metropolitan num culto de alegria e boa música
por Eros Ramos de Almeida e Hugo Sukman
Al Green, todo de branco, conquista o público cantando sucessos antigos • esbanjando simpatia numa performance que juntou Deus ao soul
E a luz se fez.
Assim que o reverendo Al Green acabou de cantar "Tired of being alone",
para delírio das pouco mais de duas mil pessoas que estavam na noite de terça-feira no Metropolitan para a primeira noite do Free Jazz Festival,
entrou no camarim, cheio de sorrisos, exclamando: "Maravilhoso, maravilhoso".
Seguiu-se uma sessão de bençãos — os que estavam atrás palco recebiam um simpático "God bless vou" (Deus o abençoe") do pastor
— e comentários elogiosos ao público carioca.
— Adorei o show — disse Al Green, enquanto recebia reverentes beijos nas mãos.
— O público do Rio é muito quente.
Desejo o melhor para todos.
A santidade do soul estava realmente certa.
O mesmo público que recebeu seca mas respeitosamente o Roy Hargrove Quintet e a cantora Rachelle Ferrell
acompanhada pelo tecladista George Duke, delirou com o show de Al Green.
— Foi tudo que eu esperava e muito mais — celebrou Roberto Frejat, líder do Barão Vermelho,
que foi ao Met, como a maior parte do público, apenas para ver Al Green.
— Foi um show com tudo que se tem direito.
O público parecia concordar em gênero, número e grau com Frejat.
Durante "Let's stay together", Al Green fez sua segunda incursão pela platéia,
distribuindo flores, beijos, abraços e simpatia, conquistando definitivamente a platéia,
que a esta hora acompanhava de pé a performance do cantor.
— E o melhor Agnaldo Timóteo do mundo — elogiou o ex-Barão Vermelho, Dé.
O frenesi cênico do cantor intercalando pulinhos, trejeitos e performances vocais
— conquistou anônimos e ilustres.
Lulu Santos, no entanto, destoou do coro de contentes, embora também tenha ido ao Met para ver o culto musical.
— Senti o cheiro dos negros de Memphis, como queria, mas achei um show com validade vencida — afirmou Lulu.
Apesar do quase consenso em torno da qualidade do show, Al Green não conseguiu lotar o Metropolitan,
embora tenha sido o show mais prestigiado da noite.
Às 21h45m, quando Roy Hargrove Quintet abriu a noite, menos da metade das mesas do Metropolitan estava ocupada.
Mas por fãs fervorosos, como o deputado estadual Carlos Mine.
— Não há dúvida: Roy Hargrove é jazz, e clássico — disse.
Já a apresentação do tecladista George Duke com a cantora Rachelle Farrell, segunda atracão da noite, dividia opiniões,
— Ela é a maior cantora de jazz da atualidade — afirmou a cantora Itamara Koorax.
— E o Duke é um músico de primeira.
— Foi um dos shows mais insuportáveis a que já assisti na vida — contrapôs Frejat.
O Metropolitan como nova sede do festival também não uniformalizou opiniões.
— Ocupar lugares maiores é uma tendência dos festivais de jazz em todo o mundo
— afirmou o produtor Liminha.
Já George Israel, do Kid Abelha, prefere lugares menores, como a tradicional sede do Free Jazz, o Hotel Nacional.
— O Met é legal mas o público fica muito apático num lugar tão grande — criticou.
Contudo, Israel viu a luz:
— Me converti ao culto de Al Green.
Banda de Al dá canja para poucos
O palco da Ritmo, casa noturna de São Conrado e reduto das canjas do 10° Free Jazz,
ficou pequeno para abrigar os dez integrantes da banda de Al Green que apareceram por lá por volta das 3h,
depois de uma rápida passagem no hotel apenas para trocar de roupa.
Capitaneados pelo baixista John Williams, os vocalistas Levestia Miller e Jack Westbrook,
o tecladista Ambric Bridgeforth e o baterista Daryl Wells esbanjaram competência e simpatia,
tocando sucessos como "Mustang Sally", "Papa was a rolling stone" e "Let's stay together".
Foram furiosamente aplaudidos.
Pena que na platéia tivesse pouco mais gente que no palco.
Os músicos, todos protestantes, como Al Green, não se incomodaram com o reduzido público,
permanecendo no palco por quase duas horas e tocando também com o baterista brasileiro
Cláudio Infante e o violonista Mário Neto, da banda Bacamarte.
O baterista Daryl Wells, de Memphis como o resto da banda,
disse que vibrou quando lhe disseram que o "Brasil era como a Jamaica".
— Adoro a Jamaica e estou gostando daqui. As mulheres, então...
— Disse o baixista Wells.
FESTIVAL / CRITICA
■ ROY HARGROVE
Hargrove garante o futuro do jazz
por José Domingos Raffaelli
Roy Hargrove confirmou que é a grande revelação do trompete desta década.
Com o seu quinteto, fez uma apresentação do melhor jazz moderno, de hoje, de agora,
inventivo e desprovido de clichês.
Hargrove (trompete e flugelhorn), Ron Blake (saxes tenor e soprano),
Stephen Scott (piano), Gerald Cannon (baixo)
e Karriem Higgins (bateria) tocaram composições de Roy,
exceto a balada "The nearness of you",
que o trompetista expôs em rubato.
"Velera", balada que Roy delineou com lírica sensibilidade,
"Brian's bounce", revivendo o glorioso início do bebop,
e "The challenge", tema eletrizante que poucos se atreveriam
a tocar tão rápido, desafiaram a habilidade de improvisaçaão dos solistas.
Com músicos como Roy Hargrove, o futuro do jazz está garantido.
■ DUKE & FERRELL
Profissionalismo versus barulho
por João Máximo
Para quem gosta de barulho, foi um show irretocável.
Some os gritos de Rochelle Ferrell, os decibéis que George Duke arrancou de sua
usina eletronica e a descalibragem do som do Metropolitan e terá idéia de como doeu nos ouvidos.
Como de hábito, houve gente que ficou impressionada com os malabarismos vocais de Rochelle.
O público adora piruetas (remember Bobby McFerrin).
Mas, enquanto Duke tentava provar que seus teclados valem por uma orquestra
(não vale, seu "pistom" mal encosta no de Hargrove),
Rochelle perdia-se em gritos, uivos, roncos.
Voz ela tem. Com seu primeiro disco (1992),
fez muita gente acreditar que também sabia cantar.
Salvou-se no show dela com Duke o profissionalismo com que os
americanos costumam vender os produtos mais estranhos.
■ AL GREEN
O reverendo e o microfone inútil
por Luiz Henrique Romanholli
Se lá estivesse, o estrategista Gerson, o Canhotinha, berraria:
"é.. é... brincadeira, tá certo?".
A voz e a presença de palco de Al Green são uma coisa de louco.
O reverendo joga a platéia de um lado para outro: celebração sensual e louvação a Deus.
A nota só não é dez, porque Al Green trouxe uma bandinha fraca, fraca.
O guitarrista — um sub Van Halen de quinta — era um nojo.
Mas Al Green é um fenômeno.
Voz abençoada, falsetes inalcançáveis, senso de ritmo suingado, dinâmica sutil,
criativida-de e uma emissão poderosa.
A certa altura, o pastor ignorou o microfone e encarou a imensidão do Metropolitan
na base do gogó e nada mais.
De arrepiar.
Dois covers "Bring it on home to me" (Sam Cooker)
e "Sittin' on the dock if the boy" (Otis Redding) valeram a noite.
Fonte: Jornal O Globo, Segundo Caderno, pág 1, 19 de Outubro 1995.
Al Green conta que Deus o faz promover o amor e pensa em dar 'canjas' no Free Jazz Festival
Por Antônio Carlos Miguel
O cantor Al Green vai abrir o Free Jazz com uma banda de 18 músicos, misturando a música soul ao gospel
Nem tanto ao mar, nem tanto terra.
Depois de voltar-se para as raízes do gospel e renegar por quase duas décadas a música "profana" que consagrou,
o reverendo Al Green retornou aos braços da soul music.
Em grande forma, como provou no álbum "Don't look back", de 1993, produzido por um dos papas do hip hop, Arthur Baker,
e contando com parcerias e a participação do grupo inglês Fine Young Cannibals.
Aos 49 anos, é este Al Green equilibrado que se apresentará na abertura do décimo Free Jazz Festi-val — ele canta no dia 17, no Metropolitan,
na mesma noite de Roy Hargrove, George Duke e Rachelle Ferrell.
De Memphis, Tennessee, EUA, em entrevista por telefone ao GLOBO, Green declarou-se ansioso para visitir o Brasil pela primeira
vez e prometeu algo mais além dos shows programados para o Rio e São Paulo (onde se apresentará no dia 18).
— Amo Stevie Wonder, somos amigos há muitos anos.
Adoraria fazer algo com ele no palco — disse.
— Ainda não combinamos nada, mas é possível que nos juntemos.
Também gostaria de fazer algo com o Sounds of Blackness.
Com 18 pessoas no palco, entre instrumentistas e vocalistas de apoio,
Green está trazendo o mesmo show que costuma mostrar em suas apresentações nos EUA e na Europa.
O repertório mistura seus maiores sucessos — "Put a little love in your heart",
"Let's stay together", "Take me to the river", "I'm still in love with you",
"Tired of being alone" — e muitos números de gospel.
Ele também pretende incluir alguma coisa inédita, do álbum "Your heart is in your hand",
que acabou de gravar com produção de Narada Michael Walden e que será lançado nos EUA em novembro.
Neste disco, Green volta a conciliar a música soul com seus ideais religiosos.
O que não aconteceu nos primeiros anos em que se dedicou ao Full Gospel Tabernacle, em Memphis.
"Quero cantar alguma música com Stevie Wonder"
"Ao entrar na igreja só via o que não podia fazer"
— Quando comecei na igreja, sentia que tinha muitas coisas que não poderia e não deveria fazer — explica Green.
— Mas, com o passar do tempo, ao me sentir mais familiarizado com o que não podia fazer, descobri as coisas permitidas.
Hoje, percebo que Deus é amor, e nós devemos promover mais o amor do que o ódio — prega o cantor e compositor.
O paraíso num falsete
Por Luiz Henrique Romanhollj
Sorte nossa que o machismo não venceu.
Quando decidiu cantar soul, Al Green relutou em usar falsete, como sugeria seu produtor, Willie Mitchell.
Achava que não era coisa de macho, sujeito homem.
Sorte nossa,venceu o produtor: um falsete de Al Green é um flash do paraíso.
O público do Free Jazz terá a chance de ver um cantor iluminado.
Não só por sua técnica — seu dom de descer ao poço dos graves e subir ao Himalaia dos agudos com firmeza e bom gosto — mas por seu feeling.
Al Green entrega a sua alma quando interpreta (ele canta para Deus e para a mulher amada com o mesmo fervor),
mas essa entrega nunca é bolero, nunca é derramada demais.
O bom gosto nas improvisações e a inteligência na divisão rítmica das frases,
fazem de Al Green um dos solistas masculinos do coro dos notáveis
(junto com Stevie Wonder, James Brown, Sam Cooke, Otis Redding, Marvin Gaye,
Curtis Mayfield, Little Richard, Smokey Robinson e Levi Stubbs, do Four Tops).
Ano passado saiu no Brasil um disco absolutamente viciante do cantor.
"Don't look back", produzido por Arthur Baker e por dois terços do Fine Young Cannibals,
foi ignorado pelas rádios daqui e do resto do mundo. Pior para elas.
Quem quiser fazer um bem à própria alma, deve se encharcar de "Don't look back".
Várias vezes por dia.
Cantor diz que gospel é sua fonte
Por Luiz Henrique Romanhollj
Al Green gostou da experiência com Arthur Baker e os Fine Young Cannibals,
mas seu universo musical não avança muito além das fronteiras do soul e do gospel — " o soul veio do gospel.
Qualquer tipo de música que você citar vem de uma base spiritual", diz.
Dai nunca ter ouvido falar em acid jazz, que neste festival estará representado pelos grupos ingleses
Jamiroquai e Brand New Heavies e pelo projeto Buckshot LeFonque, do saxofonista Branford Marsalis.
— Não conheço estes grupos, mas tenho interesse em assistir a seus shows, como também quero ouvir mais da música brasileira — conta.
Aproveitando a deixa, o que é que Al Green conhece da MPB? — Ouço a música de Sérgio Mendes desde que era garoto — exagera.
— Quando recebi o convite para tocar no Brasil fiquei muito feliz, os discos do Brasil 66 ainda estão na minha discoteca e volta e meia os ouço.
Green vê com alegria um maior interesse pela música gospel, influenciando artistas que eram identificados com o pop:
— Não sei por que isso acontece, mas realmente percebo artistas se voltando para o gospel.
Luther Vandross é certamente um deles, assim como os O'Jay-se os Stylistics.
Esta fusão é enriquecedora.
Mudando o disco, como Green acompanha os recentes problemas de Michael Jackson?
Será que a carreira do maior popstar dos anos 80 vai sobreviver aos recentes escândalos,
quando foi acusado de assediar sexualmente um menor de idade?
— Michael Jacskon é muito popular no mundo todo e acho que poderá se reerguer.
Ele tem uma grande e fantástica carreira ainda pela frente.
É só uma questão de ele superar os problemas, ter controle sobre tudo,
já que hoje é um homem casado, tem uma família.
Tudo que o permitirá ter uma vida maravilhosa — acredita o reverendo.
Fonte: Jornal O Globo, Segundo Caderno, pág 1, 28 de Setembro 1995.