Vários grupos musicais usam hoje ritmos populares e a dança nas apresentações como forma de louvar e evangelizar.
O grupo Yehoshua adotou o "funk" como estilo e vem fazendo sucesso com a música "Aleluia! Glórias a Jesus".
O grupo é composto por seis jovens de diferentes igrejas metodistas, que começaram a cantar juntos em 91 e preparam agora o primeiro disco.
Para o Yehoshua, a dança transcende as barreiras da tradição religiosa.
"O inimigo de nossas vidas busca, desde o início, roubar todas as coisas que Deus estabeleceu para manifestar o Seu Louvor.
O povo de Israel celebrava as vitórias alcançadas louvando a Deus cm dança" afirma.
Para os componentes do grupo, o homem é um ser total.
O corpo, no fluir de Deus, deve expressar o que sente nossa alma e nosso espírito.
Grupo Yehoshua adotou o estilo "funk"
O grupo afirma que recebeu total apoio da igreja, que tem visto no seu trabalho um retorno às raizes Metodistas,
quando John e Charles Wesley faziam versões de músicas populares da época, com letras evangelísticas.
"Naquela época, a média de conversões era de 350 pessoas por culto.
Hoje, nós sentimos comissionados por Deus a realizar esta mesma missão", acrescenta.
O Ministério Sou Livre também usa, de uma forma diferente, a expressão corporal e a coreografia nas suas músicas.
Como Ministério, o trabalho já tem três anos de existência, reunindo jovens de diversas denominações.
De acordo com Elinalva Motta, coreógrafa do Sou Livre, apesar da dança no grupo ser feita de maneira discreta,
apenas com coreografia, eles já receberam algumas críticas sobre o rumo do trabalho.
"Nós temos apenas uma ou duas músicas com um embalo mais forte e o pessoal estranha um pouco.
As vezes, antes da programação a gente avisa os líderes que tipo de música vamos apresentar e eles estranham,
mas depois todo mundo gosta", acrescenta ela.
O Sou Livre tem hoje 36 integrantes, mas está ampliando seu quadro de participantes.
Além da música, o Ministério possui assistência social, evangelismo e outras áreas de atuação dentro da organização.
Foram lançados pela MK Publicitá os álbuns:
Ministério Sou Livre Agora ou Nunca
Grupo Yehoshua Sangue Bom
Fonte: Jornal El Shadai, nº 4, pág 4, Dezembro 1992.
Dançar para o evangélico sempre foi colocado como uma ação errada.
Visto como preconceito por muitos.
A dança é relatada na Bíblia como uma forma de louvor, usada pelo povo de Deus para glorificar o Seu nome.
E hoje? É possível dançar no Espírito? Vários pastores dizem o que pensam sobre o tema.
A dança tem sido um assunto bastante polêmico dentro do meio evangélico.
Dançar sempre foi colocado, pela maioria das igrejas, como uma prática mundana que desperta no ser humano,
sentimentos baixos e indignos de um cristão. Desde os primórdios da civilização,
a dança sempre esteve presente nas manifestações de alegria, tristeza ou dor.
A história mostra que a sociedade mais primitiva dançava em meio a satisfação ou na morte.
Dentro das Escrituras Sagradas, em várias passagens do Velho Testamento,
a dança é registrada como manifestação de alegria Divina, como no caso do rei Davi,
que dançou em meio ao povo ao receber a Arca de volta.
Já nesta época, a prática causou escândalo aos olhos de Micau, sua esposa.
Também Miriam dançou de felicidade ao ver o povo atravessar ileso o Mar Vermelho.
A dança como forma de louvor a Deus nos dias de hoje é uma atitude que continua escandalizando a muitos.
Os conjuntos musicais e os grupos teatrais, que usam a expressão corporal, também são alvos de críticas pelos mais conservadores.
As opiniões divergem do meio evangélico. A temática: o Evangelho e a dança, fora ou dentro da Igreja,
divide as opiniões de diversos líderes de diversas denominações,
mostrando pontos de vista diferente e argumentações bíblicas que de alguma forma, condenam ou exaltam esta prática.
"Tenho pensado que dançar é uma forma contínua de movimentar o corpo.
É como estar extravasando emoção acumulada, que poderia ser na área da devoção ou como na maioria das vezes, da sensualidade".
A declaração é do Pastor Onaldo Rodrigues Pereira, da Igreja Metodista Wesleyana do Grajaú.
Para ele, a história mostra a dança dentro das civilizações antigas, sendo, na maioria das vezes,
feita com o propósito de provocar a sensualidade.
O pastor Onaldo afirma que não pode concordar com tal prática, principalmente entre a família evangélica,
porque, para ele, isto apela para os institos mais baixos do homem, sendo uma atitude indigna para os filhos de Deus.
Como forma de louvor a Deus, a dança é encarada de maneira natural pelo Pastor Marco Antônio Rodrigues Peixoto,
da Comunidade Evangélica da Zona Sul. "Eu concordo com a dança no louvor, mas é importante explicar um pouco sobre isto.
O fato da pessoa dançar está dentro de nós. A alma do ser humano sente necessidade de expressar esta alegria através da dança", afirma ele.
Para o Pastor, há tipos diferentes de dança.
Umas transmitem sensualidade, outras agressividades e, nestes casos, esta atitude não condiz com a vontade de Deus.
O povo de Israel dançou. Davi louvou a Deus com o seu corpo.
Então a dança é coisa independente de nós, ela está na nossa alma, acrescenta.
Sobre os conjuntos que usam a dança nas apresentações, o Pastor da Comunidade Evangélica garante que eles estão alcançando um determinado público. Paulo disse: "Fiz tudo com todos a fim de ganhar alguns", lembra o Pastor. Segundo Marco Antônio, desde que haja um compromentimento com a igreja e um objetivo determinado é perfeitamente aceitável que as bandas utilizem os ritmos conhecidos como do mundo, para levar o evangelho. "Se nós estamos debaixo da presença de Jesus, nós temos liberdade para fazer tal coisa. Por muito tempo, o evangelho se manteve enclausurado, fechado, porque tudo o que se pensava em fazer era coisa do diabo. Tínhamos que ficar quietos. Não, nós não podemos respeitar os limites do diabo. Nós temos que entrar nos domínios dele e resgatar os que estão com ele", finaliza o Pastor.
Já o Pastor Davi Gomes, pastor emérito da Igreja Batista da Esperança, tem uma posição contrária. Ele afirma ser terminantemente contra a dança nos cultos. "Acho que isto não é bíblico. Na apresentação dos grupos evangélicos também não concordo", acrescenta. Segundo Davi Gomes, todo o cristão deve usar sempre a orientação do Espírito Santo, fazendo "tudo para a glória de Deus". O Pastor lembra que no caso Rei Davi houve uma razão, pois ele afirmou que dançava e pulava de alegria na presença de Deus. Entretanto, o Pastor revela que a dança carnal que se vê hoje não é da vontade de Deus.
Eu cito Paulo que disse: "quer comais, quer bebais, quer façais outras coisas, seja feito para a glória de Deus". Eu acredito que o parâmetro seja este. Eu estive recentemente numa cruzada em uma cidade do Estado do Rio e um diácono me contou que dias antes, uma cantora evangélica esteve se apresentando na cidade e foi um verdadeiro rock que perturbou muito as igrejas do local", argumenta o Pastor.
O Pastor Josué Rodrigues, da Igreja Presbiteriana Bethania, acredita que a polêmica sobre este assunto vai muito pela quebra de tradições, do que pelo fato de saber se a dança agrada ou não a Deus. "O problema vai muito mais pelo lado de quanto é puro ou impuro no nosso coração". Segundo o Pastor, ele tem sido muito questionado sobre isto, principalmente pelos jovens. "É necessário haver uma orientação sobre isto. Muitas pessoas vêm de uma relação com a dança, onde ela tem muito a ver com o seu lado erótico", afirma o Pastor.
Para Josué Rodrigues, a alegria que se manifesta durante o culto deve ser orientada, principalmente para aqueles que vêm de fora. "Eu acredito que nos cultos públicos isto deve ser controlado, pois nós recebemos gente de toda parte. Porém, nos nossos cultos domésticos, onde estão só os evangélicos, eu acredito ser bem-vinda qualquer manifestação de louvor. Pode dançar, pode pular, pode fazer como se sentir bem diante de Deus", acrescenta. O Pastor ressalta que é importante uma participação ativa dos pastores neste sentido, não como agente repressor, mas como orientador dos jovens.
"Tudo o que a pessoa faz para Deus é válido, quando realmente é feito no Espírito Santo". A declaração é do Pastor José Santos, da Assembléia de Deus da Penha. Ele acredita ser possível dançar realmente na presença do Senhor, mas acrescenta que não se deve fazer disso uma regra. "A Bíblia não diz que os apóstolos dançaram, mas diz que eles eram cheios do Espírito. Não há bases bíblicas no Novo Testamento sobre isso", garante ele. O Pastor relata, entretanto, que já presenciou pessoas pularem na presença de Deus, não escandalizando ninguém, pois estavam cheias do Espírito Santo.
"O que é feito para a glória de Deus é válido; mas o importante é que não sirva de objeto de escândalo para ninguém", finaliza o Pastor.
Fonte: Jornal El Shadai, nº 4, págs 4 e 5, Dezembro 1992.