quinta-feira, 28 de setembro de 1995

O pastor reencontra sua alma


Al Green conta que Deus o faz promover o amor e pensa em dar 'canjas' no Free Jazz Festival

Por Antônio Carlos Miguel

Al Green - Divulgação
O cantor Al Green vai abrir o Free Jazz com uma banda de 18 músicos, misturando a música soul ao gospel

Nem tanto ao mar, nem tanto terra. Depois de voltar-se para as raízes do gospel e renegar por quase duas décadas a música "profana" que consagrou, o reverendo Al Green retornou aos braços da soul music. Em grande forma, como provou no álbum "Don't look back", de 1993, produzido por um dos papas do hip hop, Arthur Baker, e contando com parcerias e a participação do grupo inglês Fine Young Cannibals. Aos 49 anos, é este Al Green equilibrado que se apresentará na abertura do décimo Free Jazz Festi-val — ele canta no dia 17, no Metropolitan, na mesma noite de Roy Hargrove, George Duke e Rachelle Ferrell. De Memphis, Tennessee, EUA, em entrevista por telefone ao GLOBO, Green declarou-se ansioso para visitir o Brasil pela primeira vez e prometeu algo mais além dos shows programados para o Rio e São Paulo (onde se apresentará no dia 18).

— Amo Stevie Wonder, somos amigos há muitos anos. Adoraria fazer algo com ele no palco — disse. — Ainda não combinamos nada, mas é possível que nos juntemos. Também gostaria de fazer algo com o Sounds of Blackness.

Com 18 pessoas no palco, entre instrumentistas e vocalistas de apoio, Green está trazendo o mesmo show que costuma mostrar em suas apresentações nos EUA e na Europa. O repertório mistura seus maiores sucessos — "Put a little love in your heart", "Let's stay together", "Take me to the river", "I'm still in love with you", "Tired of being alone" — e muitos números de gospel. Ele também pretende incluir alguma coisa inédita, do álbum "Your heart is in your hand", que acabou de gravar com produção de Narada Michael Walden e que será lançado nos EUA em novembro. Neste disco, Green volta a conciliar a música soul com seus ideais religiosos. O que não aconteceu nos primeiros anos em que se dedicou ao Full Gospel Tabernacle, em Memphis.

"Quero cantar alguma música com Stevie Wonder"
"Ao entrar na igreja só via o que não podia fazer"

— Quando comecei na igreja, sentia que tinha muitas coisas que não poderia e não deveria fazer — explica Green. — Mas, com o passar do tempo, ao me sentir mais familiarizado com o que não podia fazer, descobri as coisas permitidas. Hoje, percebo que Deus é amor, e nós devemos promover mais o amor do que o ódio — prega o cantor e compositor.

O paraíso num falsete

Por Luiz Henrique Romanhollj

Sorte nossa que o machismo não venceu. Quando decidiu cantar soul, Al Green relutou em usar falsete, como sugeria seu produtor, Willie Mitchell. Achava que não era coisa de macho, sujeito homem. Sorte nossa,venceu o produtor: um falsete de Al Green é um flash do paraíso.

O público do Free Jazz terá a chance de ver um cantor iluminado. Não só por sua técnica — seu dom de descer ao poço dos graves e subir ao Himalaia dos agudos com firmeza e bom gosto — mas por seu feeling. Al Green entrega a sua alma quando interpreta (ele canta para Deus e para a mulher amada com o mesmo fervor), mas essa entrega nunca é bolero, nunca é derramada demais. O bom gosto nas improvisações e a inteligência na divisão rítmica das frases, fazem de Al Green um dos solistas masculinos do coro dos notáveis (junto com Stevie Wonder, James Brown, Sam Cooke, Otis Redding, Marvin Gaye, Curtis Mayfield, Little Richard, Smokey Robinson e Levi Stubbs, do Four Tops).

Ano passado saiu no Brasil um disco absolutamente viciante do cantor. "Don't look back", produzido por Arthur Baker e por dois terços do Fine Young Cannibals, foi ignorado pelas rádios daqui e do resto do mundo. Pior para elas. Quem quiser fazer um bem à própria alma, deve se encharcar de "Don't look back". Várias vezes por dia.

Cantor diz que gospel é sua fonte

Por Luiz Henrique Romanhollj

Al Green gostou da experiência com Arthur Baker e os Fine Young Cannibals, mas seu universo musical não avança muito além das fronteiras do soul e do gospel — " o soul veio do gospel. Qualquer tipo de música que você citar vem de uma base spiritual", diz. Dai nunca ter ouvido falar em acid jazz, que neste festival estará representado pelos grupos ingleses Jamiroquai e Brand New Heavies e pelo projeto Buckshot LeFonque, do saxofonista Branford Marsalis.

— Não conheço estes grupos, mas tenho interesse em assistir a seus shows, como também quero ouvir mais da música brasileira — conta.

Aproveitando a deixa, o que é que Al Green conhece da MPB? — Ouço a música de Sérgio Mendes desde que era garoto — exagera.

— Quando recebi o convite para tocar no Brasil fiquei muito feliz, os discos do Brasil 66 ainda estão na minha discoteca e volta e meia os ouço. Green vê com alegria um maior interesse pela música gospel, influenciando artistas que eram identificados com o pop: — Não sei por que isso acontece, mas realmente percebo artistas se voltando para o gospel. Luther Vandross é certamente um deles, assim como os O'Jay-se os Stylistics. Esta fusão é enriquecedora.

Mudando o disco, como Green acompanha os recentes problemas de Michael Jackson? Será que a carreira do maior popstar dos anos 80 vai sobreviver aos recentes escândalos, quando foi acusado de assediar sexualmente um menor de idade?

— Michael Jacskon é muito popular no mundo todo e acho que poderá se reerguer. Ele tem uma grande e fantástica carreira ainda pela frente. É só uma questão de ele superar os problemas, ter controle sobre tudo, já que hoje é um homem casado, tem uma família. Tudo que o permitirá ter uma vida maravilhosa — acredita o reverendo.


Fonte: Jornal O Globo, Segundo Caderno, pág 1, 28 de Setembro 1995.

quinta-feira, 15 de junho de 1995

Em Sintonia [Junho/95]

Por Gilberto Pereira

João Marcos

El Shadai Festival


O programa Gospel mais badalado do Rio está com surpresas neste mês de junho. No momento detém uma das maiores audiência de sábados, no ranking das FMs do Rio. E não quer ficar por aí!

As pesquisas cruzadas (Ibope, cartas e ligações) nestes últimos meses mostraram a tendência do público. E a resposta da Rádio chegou com a força de quem quer somente o primeiro lugar - O programa tem agora uma seleção musical mais apurada.

  • O perfil musical escolhido foi o Rock and Roll.
  • Comentários sobre grupos e cantores.
  • Com o novo formato (22:00hs/24:00hs), o pique do programa será um só, dentro do mais puro white metal, do início ao fim.

O que mais? Sintonize 93,3 FM aos sábados à noite e descubra você mesmo! Eu e o nosso querido Marcos Fontes, aguardaremos você. Até lá.


Petra no Brasil


Esteve pela primeira vez no Brasil, sábado 27 de maio, às 20:00hs, no Estádio Mané Garrincha em Brasília, a Banda Gospel mais antiga no mundo ainda em atividade: Petra.

Os " Dinossauros " do Rock Cristão são respeitados no mundo inteiro como ministério missionário em ação. O mais incrível é o carisma que a Banda passa ao público, misturando gerações em tomo de seu som preciso, sempre renovado, sempre atual.

No Brasil fizeram um grande show, intitulado "Petra gives e wake up call". Com músicas de seu último CD ":wake up call", Brasília, priviligiada, tornou-se por um dia a capital nacional White Metal.

Conversando pelo telefone com Luiz Roberto de Oliveira, da BW Produções e Eventos, que trouxe a mega Banda ao Brasil, soubemos de algumas coisa:

  1. Mudaram de tecladista. Sai John Lawry e entra Jim Cooper.
  2. Eles (Petra) estão abertos para virem ao Rio e/ou São Paulo. O que falta? Um empresário daqui que acredite e invista nesse evento, assim como a Blu Produções e Eventos (a verdade é que para mobilizar o Petra, sua estrutura e a mídia é preciso muitos, muitos milhares de dólares). Não é algo tão simples assim, mas ainda teremos o "nosso dia". Com certeza.


Gilberto Ribeiro
Baixista do "Cem por um"
Apresentador "Tarde Jovem" - El Shadai


Extraído Música e etc.... Jornal El Shadai, Rio de Janeiro, ano 1995, a. 3, ed. 39, p. 11, jun. 1995.


domingo, 11 de junho de 1995

João Marcos "Por dentro e por fora"

João Marcos
Foto: Samuel Santos

João Marcos é um dos mais conceituados cantores da música gospel do Rio de Janeiro. Com uma voz peculiar, esse jovem talentoso consagrase a cada novo LP, revelando uma extensa versatilidade. Não foi surpresa alguma João Marcos ter se tornado cantor, pois desde os três anos de idade, cantar era o que mais gostava de fazer.

Além de contar com uma belíssima voz, João Marcos também é compositor, dando vazão assim a sua vasta criatividade. Regente do Coral de Adolescentes e diretor do Ministério de Louvor da Primeira Igreja Batista de Niterói, João Marcos, desponta como um dos mais versáteis cantores evangélicos.

ES: Qual a sua igreja?

JM: Primeira Igreja Batista de Niterói.

ES: Uma experiência marcante com Deus.

JM: A recuperação de minha mãe.

ES: Uma música marcante em sua carreira.

JM: Rocha Firme e Louvor.

ES: Uma passagem bíblica.

JM: Salmos 18: 2

ES: Qual o seu maior defeito?

JM: Ser teimoso.

ES: Qual a sua maior qualidade?

JM: Ser amigo.

ES: O que mais admira nas pessoas?

JM: O caráter.

ES: E o que mais abomina?

JM: A falsidade.

ES: O que tira você do sério?

JM: Acordar muito cedo.

ES: Um livro.

JM: A Bíblia.

ES: Cantor.

JM: Steve Green.

ES: Cantora.

JM: Sandi Patti.

ES: Banda.

JM: Banda Rhema, Banda e Luz, Novo Som e Semeando.

ES: Pastor.

JM: Pastor Fanini.

ES: Uma paisagem do Rio.

JM: Parque da Cidade, em Niterói.

ES: Um lugar que gostaria de conhecer.

JM: Estados Unidos.

ES: Um robby.

JM: Cozinhar.

ES: Um momento inesquecível.

JM: Meu casamento.

ES: Prato preferido.

JM: Frango de qualquer jeito.

ES: Cor predileta.

JM: Preto.

ES: Perfume.

JM: Charles Jourdan.

ES: Data de aniversário.

JM: 30 de maio.


Extraído Música e etc.... Jornal El Shadai, Rio de Janeiro, ano 1995, a. 3, ed. 39, p. 11, jun. 1995.


sexta-feira, 6 de janeiro de 1995

A frutificação da Banda Cem Por Um

Com uma nova formação e preparando novo disco a Banda CEM POR UM cultiva a semente da palavra de Deus, que faz brotar em nossos canções. Levou um grande papo com a equipe do ZINE GOSPEL. Confiram.

Banda Cem por Um
Cem por Um na Praça Apoteose-Rio

ZINE GOSPEL - Como está o Conjunto Cem por Um?

CEM POR UM - Estamos indo muita bem, preparando o novo disco que vai sair em CD e com uma nova formação desde início de Dezembro.

ZINE GOSPEL - qual a nova formação da Banda?

CEM POR UM - Elmer, Martha, Ana Feitosa (vocal), Edson Feitosa (guitarra e vocal), Gilberto Ribeiro (baixo), Gilberto Vieria (teclado), Welligton Gusmão (bateria).

ZINE GOSPEL - vocês continuam com a linha de música de adoração ou mudou alguma coisa?

CEM POR UM - Nos estamos bastante diversificados no repertório, têm balada, reggae, e música de Adoração também.

ZINE GOSPEL- Qual o disco que vocês estão trabalhando no momento?

CEM POR UM - O disco está sem nome, mas já estamos com a repertório fechado e nos preparativos finais para o lançamento.

ZINE GOSPEL O que vocês esperam desse novo disco?

CEM POR UM - Que arrebente (risos) que consiga, como primeiro disco atingir o público a nível de Brasil. Mas principalmente levar as pessoas a conhecer a Jesus Cristo.

ZINE GOSPEL - Quais as principais apresentações da Banda?

CEM POR UM - Gospel Power Festival 93/94 na Praça da Apoteose-Rio, Maracãnazinho 93 no congresso da AEBV Rio, Louvorzão - Natal, comunhão-Recife

ZINE GOSPEL - Qual a gravadora de vocês e como fazer contato para apresentações e adquirir o disco da Banda?

CEM POR UM - Nós gravamos independente, mas se alguma Gravadora se interessar pelo nosso projeto nos estamos abertos. Para apresentações e Disco pelo tel.: (021) 521-9526 ou 9897130 Edson. Você pode escrever ou se corresponder com a gente: CEM POR UM Caixa Postal: 15616 CEP-20132-970 Rio de Janeiro-RJ.

ZINE GOSPEL - Cem por Um e Jesus, como é?

CEM POR UM - Nós éramos uma família que cantavamos junto e temos um relacionamento muito aberto, as pessoas que entraram na Banda acrescenta ramo nosso relacionamento com Deus de dedicar um perfeito louvor ao nosso Pai.

ZINE GOSPEL - a Igreja que vocês frequentam, uma mensagem e considerações finais?

CEM POR UM - Nós somos da Comunidade da Zona Sul - Rio. As pessoas devem deixar a palavra de Deus frutificar no coração a Cem por Um totalmente. Agradecemos ao pessoal de Zine Gospel pela oportunidade, nos colocando a disposição. Pedimos sua oração porque nesse ministério é muito difícil e visado por Satanás, nos temos que dar testemunho porque no meio musical evangélico há comentários vazios que não edificam. Queremos mandar um abraço para o pastor Marcos Antônio que têm nos incentivado, orando, ministrando nossas vidas, têm sido uma Paizão para gente, porque acreditamos que não existe ministério musical independente sem uma cobertura espiritual.


Fonte: Informativo Zine Gospel, ano 1, nº3, pág 6, JAN/FEV 1995.

domingo, 29 de maio de 1994

Gospel Campeão

Sounds of Blackness canta tema da Copa

Carlos Albuquerque

Sound of Blackness
O grupo de 30 vozes dá uma roupagem moderna ao gospel no disco "Africa to America: the journey of the drum", inédito aqui

Foi uma verdadeira jogada de craque dos organizadores da Copa: juntar o time de ouro do gospel com um carregador de piano da música pop. O Sounds of Blackness e Daryl Hall (do Hall & Oates) fazem as honras da casa e recebem o mundo da bola com "Gloryland", música-tema da maratona futebolística que começa no próximo dia 17 de junho com o jogo Alemanha X Bolívia, em Chicago, terra do blues.

"Gloryland" está no disco especial da Copa, breve nas lojas, com participações de Bon Jovi, Santana, James, Kool & The Gang, Gary Glitter e Queen, entre outros. Mas o camisa 10 desse time é mesmo o Sounds of Blackness, o maior grupo vocal dos Estados Unidos (são 30 vozes, geralmente acompa-nhadas por uma orquestra com dez integrantes) e, possivelmente, o melhor grupo vocal de um país onde a concorrência é grande e afinadíssima.

Formado em 1971 por Gary Hines — atualmente, seu diretor musical — com o nome Macalester College Black Choir, o grupo atravessou décadas aprimorando seu canto privilegiado e passando adiante história e cultura dos negros americanos.

Como o meio é a mensagem, essa jóia só pôde ser apreciado quando o SOB assinou com a Perspective Records (distribuída pela PolyGram) e se juntou aos produtores Jimmy Jam e Terry Lewis, que deram uma roupagem moderna à sua música. Seu terceiro disco, "Africa to America: the journey of the drum", recém-lançado lá fora, bate um boião ao misturar rap, rhythm and blues e jazz.

Daryl Hall tabela com 30 jogadores

Luiz Henrique Romanholli

Reproducao
Hall: tabelinha com o Sounds

LONDRES — Daryl Hall entende tanto de futebol quanto o Lazaroni. Mas coube ao soulman louro da Filadélfia tabelar em "Gloryland" com o Sounds of Blackness. No lobby de um hotel em South Kensington, ele conta como foi convocado para a Copa:

— A música foi escrita quando me pediram para cantá-la. Eu sou dono de um estúdio na Inglaterra e outro em Nova York, onde "Gloryland" foi gravada. Como a música é bastante influenciada pelo gospel, e eu canto soul, um ritmo bastante próximo do gospel, me convidaram para cantá-la.

Uniram o útil ao agradável. A infância de Hall na Filadélfia — um dos celeiros soul dos EUA — foi decisiva para o estilo do cantor, pois não?

— Claro. Foi onde eu cresci. Era possível ouvir boa música nas esquinas. Depois, eu me mudei para Nova York.

Outro lugarzinho danado de bom para quem gosta de soul. O fim da parceria com Oates trouxe mais liberdade. Mas seria a imagem da dupla e hits pregressos como "The maneater" e "Say it isn't so" um estigma na sua carreira solo?

— Nós nos separamos porque fazíamos tudo em conjunto desde a adolescência. Eu não me sinto confortável com situações confortáveis. Eu gosto de desafios. Acho normal que comparem, afinal, foram 21 álbuns juntos.

E a Copa, Daryl?

— Não acompanho esporte. Cheguei a jogar futebol na época da escola, algo incomum nos Estados Unidos. Mas serei neutro. Espero que o melhor time ganhe. Estou interessado na Copa. Nunca vi algo assim.

Luiz Henrique Romanholli viajou à Inglaterra a convite da gravadora PolyGram


Fonte: Jornal O Globo, nº 22.103, Segundo Caderno, pág 8 e 9, 29 de Maio 1994.

domingo, 14 de novembro de 1993

Para teólogo, evangélicos têm visão 'triunfalista'

Continuação da Matéria: A igreja que é um parque de diversões

Na opinião de Dom Estevão Bittencourt, teólogo do Mosteiro de São Bento, as estatísticas apresentadas pelos evangélicos não são confiáveis e, por isso, ele não acredita que os jovens estejam aderindo em massa a outras religiões. Ele afirma que os grupos crentes costumam apresentar números tendenciosos e exagerados, numa linha "triunfalista".

- Primeiro, é preciso provar que os jovens estão aderindo em massa às igrejas evangélicas. Mas não acredito nisso, porque conheço as estatísticas deles. E acho que não é muito diferente o número de jovens que freqüenta a igreja católica do que vai às evangélicas.

Já na opinião do vice-reitor para assuntos acadêmicos da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC), o padre jesuíta Jesus Hortal, de 66 anos, faltou dinamismo à igreja católica para se adaptar aos tempos atuais. Ele acredita que, hoje, cerca de 20% dos católicos praticantes sejam de pessoas de até 25 anos, e se mostra preocupado com a adesão dos jovens às igrejas evangélicas:

- Essas igrejas oferecem um ambiente alegre, mas totalmente descompromissado em relação aos grandes problemas do país. Em conseqüência, levam a juventude à alienação.

Até a ditadura militar, a igreja tinha movimentos populares, como a Juventude Universitária Católica (JUC) e a Juventude Operária Católica (JOC). A repressão, porém, levou os militantes a optarem por um caminho político-partidário, incompatível com a instituição.

- O engajamento é compreensível, porque faz parte da consciência social do cristão. Mas quando levou a uma opção partidária, a igreja não pôde acompanhar. A partir daí, os movimentos de ação católicos começaram a se desmantelar - observa padre Hortal.

Durante o período de repressão, a igreja ainda tentou manter vínculos com a juventude, criando movimentos como o Treinamento de Lideranças Cristãs. Segundo padre Hortal, o impacto inicial foi forte, mas faltou continuidade para o projeto dar certo. Hoje, existem apenas as pastorais da juventude, que trabalham ligadas às paróquias. O jesuíta afirma que toda igreja tem seu grupo jovem e cita como exemplo a paróquia de Nossa Senhora da Conceição, no Leblon, cujo grupo de oração reúne cerca de 200 adolescentes.

- Para a igreja católica, um ponto fundamental é o engajamento. A igreja tem que ajudar os fiéis a assumir essa responsabilidade, porque não se pode colocar o cristão como um ser fora do mundo. Infelizmente a juventude atual é muito descompromissada e não se preocupa com o que está acontecendo a seu redor - afirma o padre.

Pastor: crentes não temem a modernidade

O presidente da Associação Evangélica Brasileira (AEB), pastor Caio Fábio d'Araujo Filho, de 38 anos, afirma que as igrejas evangélicas são jovens: segundo ele, entre 60 e 65% dos 35 milhões de evangélicos do país têm, no máximo, 25 anos. Um fenônemo do Amapá a Porto Alegre e que, na opinião do pastor, tem três razões básicas: o desafio imposto pela fé evangélica, o estilo dos cultos e a atualização do que deve ser considerado sagrado.

- A fé evangélica desafia o jovem a crer num Deus que está presente e participante. Os cultos são alegres, animados por ritmos e letras atuais. Além disso, para os evangélicos, tudo que é sagrado pode ser atualizado através dos instrumentos de modernidade, como música, computadores, videogames, enfim, os recursos da multimídia - observa.

Em contrapartida, Caio Fábio lembra que a igreja católica resistiu e resiste ao diálogo com seu próprio tempo, não conseguindo perceber as mudanças que acontecem no mundo. Além disso, segundo o pastor, quando estabeleceu uma mudança, a igreja católica radicalizou, fazendo uma opção político-marxista, a chamada Teologia da Libertação. Mas para o presidente da AEB, essa não é a única causa do distanciamento entre os jovens e o catolicismo.

- Quando a igreja católica mudou, passou a achar que o homem era um agrande estômago, sem alma. Mas não é só isso: os ritos católicos ficaram associados, na cultura brasileira, a tudo de mais tedioso, chato e desagradável que se pode fazer - diz.

Para o pastor, a explosão evangélica é irreversível, porque os crentes não têm medo da modernidade. Os conceitos de pecado se limitam aos bíblicos, tornando o visual dos evangélicos cada vez mais próximo dos jovens de outras religiões. As concessões a todos os meios em busca de um objetivo só apresentam uma restrição: os evangélicos não aceitam o sincretismo com os cultos afro-brasileiros. Ou seja, não adianta esperar uma timbalada de Cristo.

- O visual dos evangélicos avançou rapidamente nos últimos dez anos. Por isso, o esteriótipo do crente, de bíblia sob o braço, terno e gravata, não tem mais nada a ver com a realidade - afirma Caio Fábio.


Fonte: Jornal O Globo, pág 26, domingo, 14 de novembro de 1993

A igreja que é um parque de diversões

Com grupos de rock e até videogames, os pastores evangélicos conquistam mais fiéis entre os jovens.

grupo yehoshua
Grupo Yehoshua

"Ô, ô, sangue bom é o Senhor".

Senhor? Ele mesmo: usando o nome de Jesus Cristo como bandeira, as igrejas evangélicas formaram, nos últimos anos, uma legião urbana de mais de 20 milhões de jovens, ou seja, quase 15% da população do Brasil - de acordo com os cálculos da Associação Evangélica Brasileira (AEB). Multimídia é a Bíblia dessa garotada, que usa programas de computador recheados de versículos, disputa a batalha de Jericó em videogame, e escuta grupos de rock, lambada, samba-reggae ou funk evangélicos - como provam os versos da banda Yehoshua (Jesus em hebraico), a do "sangue bom". O santo nome do Senhor chegou até o underground. Carecas, skinheads, punks e outras tribos estão se preparando para fundar a primeira igreja evangélica ligada ao mundo da contestação.

skinhead gospel

A imagem do "crente careta", de bíblia debaixo do braço, saia comprida, terno e gravata é coisa do passado. Os jovens cristãos vão ao cinema - e não fecham os olhos nas cenas mais ardentes - usam short e minissaia e até freqüentam barzinhos, arriscando um copo ou outro de cerveja. Também namoram e muito, mas, aí, começam as diferenças. As moiçoilas não evangélicas podem começar a correr atrás: os rapazes são fiéis. De verdade. A tal ponto que muitos se casam virgens. Mas romper a barreira da religião nem sempre é fácil.

- Namorei uma menina não evangélica e ela tinha ciúmes de Jesus. É lógico que não deu certo e terminamos muito mal - lembra Daniel Contreras Gutierrez, de 15 anos, da Igreja Presbiteriana Bethânia.

moda gospel
Moda gospel nas lojas

A juventude não se limita aos bancos dos templos. O pop não poupa ninguém - como pregava um antigo sucesso dos Engenheiros do Hawaii -, e cria até a figura do pastor pop: Marco Antônio Rodrigues Peixoto, de 39 anos, da Comunidade da Zona Sul, no flamengo, trouxe ao Brasil a banda de rock Whitecross e virou ídolo entre a juventude evangélica.

E se a turma até os 25 anos já foi conquistada, as igrejas evangélicas começam a preparar o crente do futuro. Em dezembro estréia o primeiro programa de televisão destinado ao público infantil. Semanal, com uma hora de duração, terá desenhos animados - com histórias bíblicas, é lógico - brincadeiras e até uma apresentadora. Beijinho, beijinho, aleluia, aleluia.

djalma mesquita e Benilton Maia
VM Show apresentado por Benilton Maia (dir) e Djalma Mesquita
Fonte: Jornal O Globo, pág 26, domingo, 14 de novembro de 1993.