domingo, 1 de novembro de 1992

Primeiro Troféu Artevan

Todos os anos, o Grupo Água Viva realiza um projeto dentro da realidade da arte evangélica brasileira. Este ano, o grupo organizou a entrega do Primeiro Troféu Artevan, no último dia 3. O prêmio foi entregue aos artistas que se destacaram durante o ano de 92, junto ao público evangélico e o resultado foi conseguido através de uma pesquisa realizada durante vários meses em diversas igrejas de denominações diferentes.

"O Troféu veio para valorizar o nosso artista. A idéia foi premiar os compositores, cantores e outros segmentos, dando um maior incentivo para que eles continuem executando um bom trabalho". O grupo pretendeu com a realização do troféu Artevan, segundo seus responsáveis, dar um impulso a mais para que a arte evangélica se torne conhecida fora das paredes das igrejas. "Muitas pessoas não conhecem a música e o teatro das igrejas e até "torcem o nariz" quando ouvem falar nesse gênero. Nás queremos jogar esta arte lá no alto, como aconteceu com a música sertaneja, que até pouco tempo era considerada "brega" e hoje todas as rádios tocam. Virou moda", afirma Levi Francis, presidente do Água Viva.

Para chegar aos nomes dos vencedores, os organizadores do projeto percorreram, durante vários meses, as igrejas evangélicas, distribuindo questionários onde eram indicados todas as categorias. "Nós corremos todas as igrejas, da Zona Sul à Baixada, em todas as denominações, fazendo a pesquisa", revela ele. A premiação, que aconteceu no Teatro Villa-Lobos, em Copacabana, homenageou os melhores, de acordo com o gosto dos evangélicos, em 18 categorias diferentes.

Apesar de ter envolvido apenas artistas do Rio de Janeiro, no próximo ano o Grupo Agua Viva pretende se estender também a São Paulo e outras capitais. Segundo Levi Francis, o patrocínio para o Segundo Troféu Artevan já está garantido.

VENCEDORES DO TROFEU ARTEVAN:


Grupo Teatral: Jevi
Personalidade: Edir Macedo
Projeto: S.O.S. Vida
Rádio: El Shadai
Locutor: Paulo Cesar Graça e Paz
Música: Mover do Espírito (autor: Armando Filho)
Programa de rádios: Louvor 10 (Rádio El Shadai)
Reconhecimento: Gracinda Freire
Disco do Ano: Mattos Nascimento
Capa de disco: Dom da Vida (Comunidade Evangélica de Nilópolis)
Dupla: Edison e Telma
Grupo musical: Altos Louvores
Compositor: Sérgio Lopes
Intérprete Feminina: Cristina Mel
Intérprete Masculino: Mattos Nascimento
Cantora: Cristina Mel
Cantor: Álvaro Tito
Disco Mais Vendido: Shirley Carvalhães


Fonte: Jornal El Shadai, nº3, pág 17, Novembro 1992.

Levando a palavra na crista da onda

Desde os 12 anos, Franklin Ribeiro sempre teve um relacionamento muito especial com as ondas e como mar. Ele começou praticando o que os surfistas chamam de "free-surf' sem grandes pretensões, apenas para conhecer a emoção de estar no meio de uma onda e ser levado por ela. Só que a coisa não ficou aí. Hoje Franklin é um bodyboarding com boas colocações no circuito amador desta categoria e com grandes chances de chegar este ano ao surfe profissional.

Com sua prancha e muita vontade de enfrentar o mar, esse atleta de 19 anos tem levado adiante um objetivo ainda maior do que qualquer onda do Havaí. Como ele mesmo diria, seu propósito é levar a palavra de Cristo aos "doidões " da praia. "Eu vivo esta realidade e sei como o pessoal deste meio precisa desta mensagem de paz e esperança", afirma ele. Seu destaque no mundo do Bodyboarding veio simultaneamente ao seu reencontro com Cristo, pois, mesmo tendo nascido em um lar cristão, o surfista se desviou durante a sua adolescência para conhecer o mundo. "Eu estava fora da Igreja e estava sentindo um vazio muito grande. Então o Senhor falou comigo e me disse que o caminho que eu tinha'escolhido era muito fácil. Ele disse que existia outro caminho para eu seguir", relata ele.

Fonte: Jornal El Shadai, nº3, pág 17, Novembro 1992.

José Messias - Um homem de comunicação nacional

Falar sobre a Rádio Nacional AM e não mencionar José Messias é a mesma coisa de vir ao Rio de Janeiro e não conhecer o mar. A Nacional está para Messias, como Messias para a Rádio, ambos se fundem. Mas quem pensa que José Messias é apenas um homem de rádio, engana-se porque este mineiro é jornalista, produtor, diretor, compositor e cantor.

Ele chegou ao Rio em 1948, atraído pelos encantos da Cidade Grande e uma imensa vontade de conhecer o Pão de Açúcar, o Corcovado, o Bonde e a Rádio Nacional, que mexia com a emoção de 50 milhões de brasileiros.

"O meu grande sonho era tornar-me comediante, entretanto, aceitei o convite de Erivelto Martins e larguei o circo. Vim pra o Rio, onde, segundo ele, eu me transformaria num grande compositor, porém durante 3 anos trabalhei como secretário de Erivelto, até que me tornei animador de pro-gramações. Desta maneira, passei a freqüentar os bastidores da emis-sora", ressalta.

Messias conta que sua estréia no Rádio foi com o "Programa Festival de Ritmos", tendo como padrinhos Erivelto Martins e Emilinha Borba. "O programa com duração de uma estendeu-se a três horas, fazendo o maior sucesso". O jornalista diz, ainda, que a Rádio Nacional estava para o país como a Rede Globo está hoje para o Brasil. Ele lembra que naquela época os principais nomes da Música Popular Brasileira eram contratados da Rádio Nacional que possuia cinco orquestras. "A televisão, ressalta Messias, foi um desastre para o Rádio que sempre foi fiel ao público".

Messias menciona que começou como compositor, querendo ser humorista, mas acabou sendo apresentador, inclusive com muito sucesso na TV Rio, onde, levado por Walter Clark, fazia um programa. de 4 horas de duração aos domingos, lançando nomes da Jovem Guarda como Roberto Carlos, Wanderléia, Jerry Adriane, Erasmo Carlos, entre outros. Em seguida, foi convidado por Flávio Cavalcante pra ser jurado e eventual substituto do apresentador, terminando como diretor geral do programa.

Polivante, Messias sonha em realizar um grande projeto em 93, ressaltando que "tem necessidade de produzir e dirigir um musical", "Sou um homem do espetáculo ao vivo. Do espetáculo com alma, emoção", enfatiza.

Ele revela que pretende organizar um festival de Música Popular Brasileira para descobrir novos valores, buscar novos talentos. "A idéia é realizar o FENATRA — Festival Nacional dos Trabalhadores —, cuja final seria no Maracanã no dia 14 de maio, com representantes de todo o país", diz Messias, empolgado.

Esse versátil mineiro está diariamente na Rádio Nacional onde apresenta das 13 às 16:30h o programa "Segundo Caderno", com entrevistas, variedades e artistas. Aos sábados, ele apresenta o programa "Show da Cidade", que é veiculado das 10h ao meio-dia. Com mais de 200 músicas gravadas pór alguns dos mais famosos representantes da M.P.B., com passagens em cinco jornais, atuante na televisão e no rádio e responsável pela instalação de algumas emissoras de Rádio, José Messias recentemente foi homenageado na Câmara de Vereadores com a medalha Tiradentes, recebendo o título de benemérito da Cidade do Rio de Janeiro. Pra quem não sabe, Messias foi diretor geral do Clube dos Artistas em São Paulo, é sócio honorário das Sociedades e Autores, ISBASEN, foi fundador do Sindicato dos Compositores e faz parte do quadro da Ordem dos Músicos.


Fonte: Jornal El Shadai, nº3, pág 16, Novembro 1992.

O sucesso antes e depois de Cristo

"Negue o seu calor e o seu carinho. Diga que você já me esqueceu..."

David Montenegro

Estes versos foram fundo musical de muitas brigas de amor e fizeram muitos românticos chorarem. Mas eles serviram também para lançar no mundo da música o cantor David Montenegro que, com sua voz grave, fez delirar multidões de fãs e agora usa este dom para louvar a Deus e difundir sua mensagem.

Ao contrário do que acontece com a maioria dos cantores, David não precisou bater de porta em porta, pedindo uma chance. Não. Ele cantou e encantou nada mais nada menos do que a gravadora Odeon, uma das maiores do Brasl, assinando o seu primeiro contrato lá pelos idos de 64. Incentivado por alguns amigos, David Montenegro teve a "audácia", como ele costuma dizer, de pedir um teste na gravadora, sem saber que havia uma vaga sendo disputada por mais 18 pessoas. Como "Negue" era a única música ideal para o seu tom de voz, lá foi ele, fazendo o teste com apenas uma música enquanto todos os outros tiveram a oportunidade de gravar três diferentes canções. Para sua surpresa, a vaga ficou para ele e, a partir daí, o sucesso surgiu rápido e intenso, com programas na antiga TV Rio, shows no rádio e apresentações no Rio e em São Paulo.

Durante 15 anos, David Montenegro, ou Isaías David, seu verdadeiro nome, fez sucesso através do Brasil cantando música popular brasileira, no estilo romântico. Entre várias conquistas, ele foi convidado a gravar o tema de uma das grandes produções do cinema estrangeiro, o filme "Lawrence das Arábias", sendo o único cantor no mundo a gravá-lo. "Mesmo estando lá fora e ainda não tendo conhecimento da Verdade, eu sentia que era a mão de Deus que estava me exaltando", revela o cantor.

E foi mais ou menos nesta época, no auge de sua carreira, que algo mudou na sua vida. Como a maioria dos cantores não-evangélicos, David era um assíduo frequentador de centros de macumba. Apesar da desaprovação de sua esposa que era católica praticamente, ele ia quase que diariamente a um dos maiores terreiros do Rio de Janeiro. "Eu fui escolhido para ser o cantor do centro. Coisas terríveis eu via acontecer ali. Eu estava lá para buscar o sucesso cada vez maior para a minha carreira", afirma ele.

Apesar de estar conseguindo a fama como cantor, David aos poucos foi tomando consciência da lama onde estava atolado. Este despertar chegou de repente como numa visão. "Eu estava dormindo e, de repente, eu acordei e vi Jesus Cristo que dizia segue-me você e sua família", lembra o cantor.

Segundo ele, após este dia, todos os seus familiares, que já eram evangélicos, começaram a orar e a enviar mensagens para ele. Foi então que a decisão final aconteceu. "Nós fomos a uma igreja e ouvimos uma mensageira maravilhosa e a minha esposa foi a primeira a aceitar e depois eu e minha filha. Hoje eu posso dizer "eu e a minha casa servimos ao Senhor".

A partir deste dia, toda a sua vida mudou. Como David costuma dizer, Deus transformou a sua carreira em um Ministério. Um Ministério de louvor. Hoje, David Montenegro já tem vários discos evangélicos gravados e com uma grande aceitação perante o público. Através de seu encontro com. Cristo, ele pôde dar a sua voz privilegiada a missão de levar a Mensagem a quem ainda não a conhece, usando, para isso, um dos melhores meios que existe: a música.


Fonte: Jornal El Shadai, nº3, pág 16, Novembro 1992.

Eleições 93/2º Turno - Téte à Téte com os candidatos

CESAR
MAIA

BENEDITA
DA SILVA

CESAR MAIA

Nome, estado civil, profissão e idade?
César Epitácio Maia, casado, economista, 47 anos.
Tem filhos? Quantos? Onde nasceu?
Sim. 2 filhos gêmeos, Rodrigo e Daniela Maia, 22 anos. Nasceu no Maracanã, Rio de Janeiro.
Qual é a lembrança mais marcante de sua infância?
A tranquilidade da Praça General Osório, em Ipanema.
Qual o momento de maior emoção já vivido?
Aprovação da Constituição de 88.
Um sonho a realizar?
Administrar o Rio.
O que nunca faria na vida?
Apoiar um golpe de estado.
Você crê em Deus? Qual a sua religião? Sim. Sou católico.
Por que escolheu a política como caminho?
Por ser o único capaz de resolver as contradições deste País.
Um político que tenha influenciado a sua carreira?
Indiscutivelmente, Ulysses Guimarães.
Por que você acha que pode ser um bom prefeito para o Rio de Janeiro?
Eu nasci no Rio e há muitos anos me dedico a estudar os problemas desta cidade em busca de soluções modernas e eficazes capazes de transformá-la numa Cidade Global.
O que mais aprecia no Rio?
As suas belezas naturais e a determinação política de mudança que move o carioca.
Qual o projeto mais importante que já elaborou como parlamentar?
Todos têm a sua importância.
Uma tristeza e uma alegria?
Uma tristeza, o exílio. E a consequência, uma alegria: foi no Chile que conheci Mariângela, minha esposa.
Uma utopia?
Exterminar a pobreza no Brasil.
Um livro de cabeceira?
A Constituição brasileira de 88.
Sobremesa favorita?
Goiabada com queijo.
Um hobby?
Jogar futebol com os amigos do Condomínio Novo Leblon.
A cara do Rio?
Estádio do Maracanã lotado no domingo.
Qual a sua opinião sobre Cesar Epitácio Maia como pessoa?
Uma pessoa coerente com seus ideais.
Se eleito, quais as suas prioridades para a cidade?
Acabar com a divisão do Rio entre a Cidade Paralela e a Cidade Legal.

BENEDITA DA SILVA

Nome, estado civil, profissão e Idade?
Benedita Souza da Silva. Viúva, 50 anos, auxiliar de enfermagem e assistente social.
Tem filhos? Quantos?
Sim. Dois filhos.
Onde nasceu?
No Hospital Miguel Couto, Rio de Janeiro.
Qual é a lembrança mais marcante de sua infância?
Cachorro quente que não podia comprar.
Qual o momento de maior emoção já vivido?
Quando nasceram meus filhos.
Um sonho a realizar?
Curso de história.
O que nunca faria na vida?
Subir, pisando, subir a qualquer preço.
Você crê em Deus? Qual a sua religião?
Sim, protestante, Assembleia de Deus.
Por que escolheu a política como caminho?
Entrei para a política como a continuação natural da minha luta contra as injustiças e os preconceitos. Optei pelo Partido dos Trabalhadores, onde qualquer trabalhador tem vez e voz.
Um político que tenha influenciado a sua carreira?
Bola, meu finado marido, ativista político e militante dos movimentos sociais.
Por que você acha que pode ser uma boa prefeita para o Rio de Janeiro?
Meu conhecimento dos problemas sociais, vividos na própria pele, aliado a um partido honesto e comprometido seriamente com os interesses populares, me dão a segurança de realizar com êxito o programa de resgate da cidadania e da dívida social, principal problema da nossa cidade.
O que mais aprecia no Rio?
As paisagens.
Qual o projeto mais importante que já elaborou como parlamentar?
Fiz vários projetos que considero importantes, como, por exemplo, aqueles referentes aos direitos da mulher, das assistentes sociais, urbanização de favelas, uso de solo urbano, creches e outros.
Uma tristeza e uma alegria?
Perder um ente querido e não atrapalhar a vida dos outros.
Uma utopia?
Acabar com a miséria.
Um livro de cabeceira?
A Bíblia.
Sobremesa favorita?
Doce de abóbora com coco e queijo de minas.
Um hobby?
Compor poesia.
A cara do Rio?
Papo de esquina, praias, Lapa, Cinelândia e favelas.
Qual a sua opinião sobre Benedita da Silva como pessoa?
Mulher de fé, guerreira, perseverante.
Se eleita, quais as suas prioridades para a cidade?
Minha meta é resgatar a dívida social, erradicando a miséria e diminuindo o grau de pobreza de nossa população. Farei isso atacando de imediato os problemas das meninas e meninos de rua, da educação, saúde, transportes e habitação. Vou ampliar as oportunidades de trabalho com mais emprego e atividades geradoras de renda, como as empresas rudimentares, por exemplo.

Fonte: Jornal El Shadai, nº3, pág 6, Novembro 92.


Instituto Nacional do Câncer absorve Pioneiras Sociais

Há pouco mais de um mês, o Centro de Ginecologia Luísa Gomes de Lemos, mais conhecido como Hospital das Pioneiras Sociais, passou a pertencer ao Instituto Nacional de Câncer, o Inca. A partir de agora, o Centro é uma das coordenadorias do Instituto, tendo como objetivo maior a prevenção e o combate ao câncer da mulher, deixando aos poucos algumas atribuições anteriores, como promover operações de esterilidade, retirada de miomas e outras.


A escolha do Centro de Ginecologia se deu justamente devido à unidade hospitalar já possuir um histórico longo e uma bagagem sólida no campo da prevenção e tratamento desta doença, que atinge um grande contingente de mulheres em todo o mundo. Segundo o Dr. Antonio Cesar Lemme, do Instituto Nacional de Câncer, um estudo revelou que o câncer representa a segunda causa de mortalidade feminina, apenas ultrapassada pelas doenças cardiovasculares. No Rio de Janeiro, a maior incidência fica por conta do câncer de mama, devido a condições socioeconômicas especiais. Já em regiões mais pobres do país, o câncer do colo do útero é o mais comum.

De acordo com Dr. Lemme, os altos índices levaram o Instituto a absorver o "Hospital das Pioneiras Sociais". "O Inca, enquanto uma instituição do Ministério da Saúde, tem como obrigação dar esta assistência e tentar resolver o máximo possível este problema", acrescenta o médico. Ele acredita que a partir de novembro, o Centro de Ginecologia já vai estar priorizando a função de diagnosticar e combater o câncer de mama e do colo do útero. "Até janeiro, nós acreditamos que já estaremos funcionando plenamente dentro dos objetivos estabelecidos pelo Instituto", afirma.

Além do Centro de Ginecologia, o Instituto Nacional do Câncer congrega mais outras unidades, que são o Hospital de Câncer da Cruz Vermelha, o Hospital de Oncologia e o Centro de Prevenção e Diagnóstico Precoce do Câncer.

O Inca, através das suas coordenadorias, realiza pesquisas de novas formas de tratamento da doença, além de preparar recursos humanos especializados nesta área. Outra atribuição do Instituto é o serviço de orientação da população através de campanhas de prevenção e esclarecimento. Para isso, o Inca conta com o Pro-Onco, uma coordenadoria direcionada para a finalidade de divulgar que o câncer é uma doença que pode ser perfeitamente curável se detectada em seus estágios iniciais.


Fonte: Jornal El Shadai, nº3, pág 5, Novembro 92.


Auto-exame e preventivo são as melhores armas

O câncer de mama e o câncer do colo do útero são dois problemas sérios que atingem grande parte da população feminina brasileira. Se não detectado em suas formas iniciais, o câncer pode levar à morte, o que acontece com frequência no Brasil. Apesar de ser um problema grave, o câncer pode ser descoberto e tratado sem riscos para a paciente. Porém, isto depende exclusivamente da mulher que tem a possibilidade de notar a presença do tumor cancerígeno da mama através do autoexame e até evitar o surgimento do câncer do colo do útero, fazendo periodicamente o exame preventivo. O que acontece muitas vezes é que o medo e a falta de informação faz com que a mulher só procure ajuda médica quando a doença já se apresenta em estágios tão adiantados que a cura se torna difícil e altamente sofrida.


O CÂNCER DA MAMA

A região Sudeste do Brasil apresenta o maior índice de incidência de câncer de mama no país. De acordo com o Dr. Oscar Jesuíno da Silva, vice-diretor do Centro Ginecológico Luíza Gomes Lemos, apesar de todos os esforços na realização de pesquisas e avanços, a taxa de mortalidade nestes casos tem se mantido estável nos últimos anos. Segundo o médico, a sobrevida de pacientes portadores desta doença está muito ligada à fase em que o problema seja diagnosticado. "Um dos recursos mais acessível para detectar o câncer de mama num estágio que ele ainda seja curável é o autoexame", afirma o especialista.

Maria Inês Noronha
Dr. Oscar Jesuíno da Silva

De acordo com Dr. Oscar Jesuíno da Silva, há uma relação muito direta entre o tamanho do tumor no momento do diagnóstico e do tratamento e a sobrevida do paciente. "Quanto maior o tumor, menor a possibilidade de cura daquele problema", garante. Desta forma, quanto mais cedo a mulher descobrir o nódulo cancerígeno, maiores as chances de sobrevivência e de se submeter ao tratamento sem a necessidade da mutilação através da mastectomia. E neste ponto que está a importância de se difundir a necessidade de as mulheres realizarem o autoexame das mamas.

O teste consiste na própria mulher apalpar ambos os seios à procura de nódulos ou qualquer alteração de tamanho, formato ou vermelhidão. O autoexame deve ser feito mensalmente, sempre após o período menstrual. Para as mulheres que já alcançaram a menopausa, o exame deve ser realizado no mesmo dia de cada mês. Qualquer mudança precisa ser observada, inclusive nos bicos das mamas. O exame deve ser feito em pé diante do espelho e deitada, apalpando toda a região dos seios até as axilas, pressionando levemente o bico para detectar a presença de sangue ou líquido escuro.

Os especialistas recomendam que a prática do autoexame mensal das mamas comece aos 25 anos, ou mais cedo, se houver um histórico de câncer na família. Segundo o Dr. Oscar, as pacientes que são diagnosticadas e tratadas no estágio um da doença, que é o inicial, tem uma possibilidade de vida em torno de 80 a 90 por cento. Isto sem a necessidade do uso da mastectomia, que é a retirada da mama afetada pelo câncer.

De acordo com o médico, nos países em desenvolvimento, a incidência do tratamento do câncer em estágios mais avançados ainda é muito grande, superando em dois terços o que acontece no Primeiro Mundo. "A realidade brasileira é que mais da metade das mulheres só procuram assistência médica na fase avançada da doença", revela o especialista. Para ele, isto só vai acabar quando o assunto for amplamente discutido e divulgado entre a população.

É importante frisar que um grande percentual de mulheres que procuram o médico, devido à presença de nódulos no seio, não tem tumores de origem maligna. Porém, esta confirmação só pode ser dada pelo especialista, que deve ser procurado imediatamente após a descoberta de qualquer alteração nas mamas.

O CÂNCER DO COLO DO ÚTERO

Outro problema que aflige as mulheres, principalmente de regiões mais pobres, é o câncer do colo do útero. Ao contrário do câncer de mama, no colo a doença pode ser detectada antes de sua instalação definitiva. Para que isso aconteça, é necessário se fazer o exame preventivo, que é uma espécie de coleta do material encontrado no colo do útero que, levado ao laboratório, vai indicar ou não a presença de lesões com características de se tornarem um câncer.

O preventivo não tem o objetivo de rastrear o câncer, mas sim detectar lesões que vão mais tarde se transformar na doença. "O método de se diagnosticar as displasias é simples, econômico, indolor, rápido e eficiente", esclarece Dr. Oscar. Segundo ele, neste estágio, o problema é 100 por cento curável. Falando de forma popular, estas lesões são alterações das células que sofrem, além do processo inflamatório, mudanças que tenham potencial para se tornarem malignas. Segundo Dr. Oscar, os tratamentos para esses distúrbios precursores podem ser feitos através da cauterização (com o uso do lazer ou não) e através do processo cirúrgico, quando o estágio já é mais avançado.

De acordo com estudos realizados pelo Instituto Nacional do Câncer, o exame preventivo pode ser feito com intervalos de três anos, a partir da primeira relação sexual. Como garantia, as duas primeiras vezes devem ser feitas com um espaço de seis meses para atestar a veracidade do primeiro resultado.

Se uma mulher chega a morrer por causa de um câncer no colo do útero é porque alguém tem culpa no cartório. Ou o Governo que não deu condições para se fazer o preventivo, ou o médico que não orientou a paciente, ou a mulher que, sabendo da importância do exame, não o fez". A declaração é da ginecologista Emília Rebelo Lopes, médica do Instituto Nacional de Câncer e coordenadora do PRO-ONCO. Para ela, o importante é divulgar a existência deste recurso e tirar o medo das pessoas. "E necessário acabar com o estigma de não se falar sobre esta doença para que as pessoas conheçam bem o assunto e assim possam se proteger do problema", finaliza a médica.

Fonte: Jornal El Shadai, nº3, pág 5, Novembro 92.